Catecismo da Igreja Católica 631-747


CREIO NO ESPÍRITO SANTO

ARTIGO 5 

“JESUS CRISTO DESCEU AOS INFERNOS, RESSUSCITOU DOS MORTOS NO TERCEIRO DIA”

 

631.             “Ele desceu também às profundezas da terra. Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher o universo” (Ef 4, 9-10). O Símbolo dos Apóstolos confessa, em um mesmo artigo da fé, a descida de Cristo aos infernos e sua ressurreição dos mortos no terceiro dia, porque, em sua páscoa, é do fundo da morte que ele fez jorrar a vida:

“Christus, Filius tuus,

qui, regressos ab inferis,

humano generi serenus illuxit,

et vivit et regnat in saecula saeculorum. Amen”.

“Cristo, teu Filho,

que, retomado dos infernos,

brilhou sereno para o gênero humano,

e viver e reinar pelos séculos dos séculos. Amém”.

PARÁGRAFO 1

CRISTO DESCEU AOS INFERNOS

 

632.             As frequentes afirmações do Novo Testamento, segundo as quais Jesus “ressuscitou dos mortos” (1 Cor 15, 20), pressupõem que, anteriormente à ressurreição, ele tenha ficado na morada dos mortos. Este é o sentido primeiro dado pela pregação apostólica à descida de Jesus aos infernos: Jesus conheceu a morte como todos os seres humanos e com sua alma esteve com eles na morada dos mortos. No entanto, para lá foi como Salvador. proclamando a boa notícia aos espíritos que ali estavam aprisionados.

 

633.             A Escritura denomina a morada dos mortos, para a qual Cristo morto desceu, dos infernos, ou sheol ou Hades, visto que os que lá se encontram estão privados da visão de Deus. Este é, com efeito, o estado de todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor, o que não significa que a sorte deles seja idêntica, como Jesus mostra na parábola do pobre Lázaro recebido no “seio de Abraão”. “São precisamente essas almas santas, que esperavam seu libertador no seio de Abraão, que Jesus libertou ao descer aos infernos”. Jesus não desceu aos infernos para ali libertar os condenados nem para destruir o inferno da condenação, mas para libertar os justos que o haviam precedido.

 

634.             “Também aos mortos foi anunciada a Boa Nova...” (1 Pe 4, 6). A descida aos infernos é o cumprimento, até sua plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a fase última da missão messiânica de Jesus, fase condensada no tempo, mas imensamente vasta em sua real significação de extensão da obra redentora a todos os homens, de todos os tempos e de todos os lugares, pois todos os que são salvos tornam-se participantes da redenção.

 

635.             Cristo desceu, portanto, à profundeza da terra, a fim de que “os mortos” ouvissem “a voz do Filho de Deus” (Jo 5, 25) e a escutando vivessem. Jesus, “o Príncipe da vida”, “participou da mesma condição, para destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo. Assim libertou os que, por medo da morte, passavam a vida toda sujeitos à escravidão” (Hb 2, 14-15). A partir de agora, Cristo ressuscitado tem “a chave da morte e da morada dos mortos” (Ap 1, 18), e “em nome de Jesus, todo joelho se dobre no Céu, na Terra e abaixo da terra” (Fl 2, 10).

“Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam a séculos. […] Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos. [...] Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho. […] Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos, levanta-te, dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos”.


Resumindo:

 

636.             Na expressão “Jesus desceu à mansão dos mortos”, o símbolo confessa que Jesus morreu realmente e que, por sua morte por nós, venceu a morte e o diabo “aquele que tinha o poder da morte” (Hb 2, 14).

 

637.             O Cristo morto, em sua alma unida à sua pessoa divina, desceu à morada dos mortos. Abriu as portas do céu aos justos que o haviam precedido.

 

PARÁGRAFO 2

AO TERCEIRO DIA RESSUSCITOU DOS MORTOS

 

638.             “Anunciamos esta Boa-Nova: a promessa que Deus fez aos nossos pais, ele a cumpriu para nós, os filhos, ao ressuscitar Jesus” (At 13, 32-33). A ressurreição de Jesus é a verdade culminante de nossa fé em Cristo, crida e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada, juntamente com a cruz, como parte essencial do mistério pascal.

“Cristo ressuscitou dos mortos.

Por sua morte venceu a morte,

aos mortos deu a vida”.

 

                        I.          O evento histórico e transcendente

 

639.             O mistério da ressurreição de Cristo é um acontecimento real, que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. São Paulo escrevia aos Coríntios, pelo ano de 56: “Eu vos transmiti [...] o que eu mesmo tinha recebido, a saber: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras; e apareceu a Cefas e, depois aos Doze” (1 Cor 15, 3-4). O apóstolo fala aqui da viva tradição da ressurreição, que ficou conhecendo após sua conversão às portas de Damasco.

 

O TÚMULO VAZIO

640.             “Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui. Ressuscitou” (Lc 24, 5-6). No quadro dos acontecimentos da Páscoa, o primeiro elemento com qual nos deparamos é o sepulcro vazio. Ele não constitui em si uma prova direta. A ausência do corpo de Cristo no túmulo poderia ser explicada de outra forma. Apesar disso, o sepulcro vazio constitui para todos um sinal essencial. Sua descoberta pelos discípulos foi o primeiro passo para o reconhecimento do próprio fato da ressurreição. Este é o caso das santas mulheres, em primeiro lugar, e de Pedro, logo depois. O discípulo “que Jesus amava” (Jo 20, 2) afirma que, ao entrar no túmulo vazio e descobrir “as faixas de linho no chão” (Jo 20, 6), “viu e creu”. Isto supõe que ele tenha constatado, pelo estado do sepulcro vazio”, que a ausência do corpo de Jesus não poderia ser obra humana e que Jesus não havia simplesmente retornado à uma vida terrena, como acontecera com Lázaro.

 

AS APARIÇÕES DO RESSUSCITADO

641.             Maria de Mágdala e as santas mulheres, que vinham terminar de embalsamar o corpo de Jesus, sepultado às pressas, na tarde da Sexta-feira Santa, devido à chegada do sábado, foram as primeiras a encontrar o Ressuscitado. Assim, as mulheres foram as primeiras mensageiras da ressurreição de Cristo para os próprios Apóstolos. A eles, Jesus apareceu em seguida: primeiro a Pedro, depois aos Doze. Pedro, chamado a confirmar a fé de seus irmãos, vê, portanto, o Ressuscitado antes deles, e é baseada em seu testemunho que a comunidade exclama: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão” (Lc 24, 34).

 

642.             Tudo o que aconteceu nesses dias pascais convoca todos os Apóstolos, de modo particular Pedro, para a construção dos novos tempos que começaram naquela manhã pascal. Como testemunhas do Ressuscitado, são eles as pedras de fundação de sua Igreja. A fé da primeira comunidade dos crentes tem por fundamento o testemunho de homens concretos, conhecidos dos cristãos, a maioria ainda vivendo entre eles. Estas “testemunhas da ressurreição de Cristo” são, antes de tudo, Pedro e os Doze, mas não somente eles: Paulo fala claramente de mais de quinhentas pessoas às quais Jesus apareceu de uma só vez, além de Tiago e dos outros Apóstolos.


643.             Diante desses testemunhos, é impossível interpretar a ressurreição de Cristo fora da ordem física e não reconhecê-la como um fato histórico. Os fatos mostram que a fé dos discípulos foi submetida à prova radical da paixão e morte de cruz de seu Mestre, anunciada antecipadamente por ele. O abalo provocado pela paixão foi tão grande que os discípulos (pelo menos alguns deles) não creram de imediato na notícia da ressurreição. Longe de nos falar de uma comunidade tomada de exaltação mística, os Evangelhos nos apresentam discípulos abatidos, “com rosto triste” (Lc 24, 17), assustados, porque não acreditaram nas santas mulheres que voltavam do sepulcro, considerando suas palavras “um delírio” (Lc 24, 11). Quando Jesus se manifesta aos onze, na tarde da Páscoa, “os criticou pela falta de fé e pela dureza de corações, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado” (Mc 16, 14).

 

644.             Mesmo confrontados com a realidade de Jesus ressuscitado, os discípulos ainda duvidam, a ponto de o fato lhe parecer impossível: pensam estar vendo um espírito. “Eles ainda não podiam acreditar, tanta era sua alegria e sua surpresa” (Lc 24, 41). Tomé conhecerá a mesma provação da dúvida. Quando da última aparição de Jesus na Galileia, contada por Mateus, “alguns tiveram dúvida” (Mt 28, 17). Por isso, falta consistência à hipótese, segundo a qual, a ressurreição teria sido um “produto” da fé (ou da credulidade) dos Apóstolos. Muitos pelo contrário, a fé que tinham na ressurreição nasceu — sob a ação da graça divina – da experiência direta da realidade de Jesus ressuscitado.

 

O ESTADO DA HUMANIDADE RESSUSCITADA DE CRISTO

645.             Jesus, ressuscitado estabeleceu com seus discípulos relações diretas, estes o tocam e com ele comem. Convida-os, com isso, a reconhecerem que ele não é um fantasma e sobretudo a constatarem que o corpo ressuscitado, com o qual ele se apresenta, é o mesmo que foi martirizado e crucificado, pois ainda traz as marcas de sua paixão. Contudo, este corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as propriedades novas de um corpo glorioso: não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode se tornar presente, a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar restrita a terra, mas já pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai. Por esta razão, também Jesus ressuscitado é soberanamente livre de aparecer como quiser: sob a aparência de um jardineiro ou “sob outra aparência” (Mc 16, 12), diferente das que eram familiares aos discípulos; tudo isso para suscitar-lhes a fé.


646.             A ressurreição de Cristo não constitui um retorno à vida terrestre, como as ressurreições que ele havia realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo; a do jovem de Naim; a de Lázaro. Tais fatos eram acontecimentos miraculosos, porém as pessoas contempladas pelos milagres voltavam simplesmente à vida terrestre “comum” pelo poder de Jesus. Em determinado momento, voltariam a morrer. A Ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. Em seu corpo ressuscitado, ele passa de um estado de morte para outra vida, para além do tempo e do espaço. Na ressurreição, o corpo de Jesus é repleto do poder do Espírito Santo; participa da vida divina no estado de sua glória, de modo que Paulo pode chamar a Cristo de “o homem celeste”.

 

A RESSURREIÇÃO COMO ACONTECIMENTO TRANSCENDENTE

647.             “Só tu, noite feliz” – canta o Exsultet da Páscoa – “soubeste a hora em que Cristo da morte ressurgia”. Com efeito, ninguém foi testemunha ocular do próprio acontecimento da ressurreição, nenhum Evangelista o descreve. Ninguém foi capaz de dizer como ela se produziu fisicamente. Menos ainda sua essência mais íntima, sua passagem a outra vida, foi perceptível aos sentidos. Como evento histórico, constatável pelo sinal do sepulcro vazio e pela realidade dos encontros dos Apóstolos com Cristo ressuscitado, a Ressurreição nem por isso deixa de estar no cerne do mistério da fé, no que ela transcende e supera a história. É por isso que Cristo ressuscitado não se manifesta ao mundo, mas a seus discípulos, “aqueles que o acompanharam desde a Galileia até Jerusalém e que agora são suas testemunhas diante do povo.” (At 13, 31).

 

                     II.          A ressurreição – Obra da Santíssima Trindade

 

648.             A ressurreição de Cristo é objeto de fé, enquanto intervenção transcendente do próprio Deus na criação e na história. Nela, as três Pessoas divinas agem ao mesmo tempo, juntas, e manifestam sua originalidade própria. Ela aconteceu pelo poder do Pai que “ressuscitou” (At 2, 24) Cristo, seu Filho, e desta forma introduziu, de modo perfeito, sua humanidade – com seu corpo – na Trindade. Definitivamente Jesus, “segundo o Espírito de santidade foi declarado Filho de Deus com poder, desde a Ressurreição dos mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1, 4). São Paulo insiste na manifestação do poder de Deus pela obra do Espírito que vivificou a humanidade morta de Jesus e a chamou ao estado glorioso de Senhor.

 

649.             O Filho, ele mesmo, realiza a própria Ressurreição em virtude de seu poder divino. Jesus anuncia que o Filho do Homem deverá sofrer muito, morrer e, em seguida, ressuscitar (sentido ativo da palavra). Em outra ocasião, afirma explicitamente: “Porque dou a minha vida […] Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de recebê-la de novo” (Jo 10, 17-18). Nós “cremos [...] que Jesus morreu e ressuscitou” (1 Ts 4, 14).

 

650.             Os Padres da Igreja contemplam a Ressurreição a partir da Pessoa divina de Cristo que ficou unida à sua alma e a seu corpo separados entre si pela morte: “Pela unidade da natureza divina, que permanece presente em cada uma das duas partes do homem, estas se unem novamente. Assim, a morte se produz pela separação do composto humano, e a Ressurreição, pela união das duas partes separadas”.

 

                 III.          Sentido e alcance salvífico da ressurreição

 

651.             “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a nossa fé” (1 Cor 15, 14). A Ressurreição constitui, antes de mais nada, a confirmação de tudo o que o próprio Cristo fez e ensinou. Todas as verdades, mesmo as mais inacessíveis ao espírito humano, encontram sua justificação se, ao ressuscitar, Cristo deu a prova definitiva, que havia prometido, de sua autoridade divina.

 

652.             A Ressurreição de Cristo é “cumprimento das promessas do Antigo Testamento” e do próprio Jesus, durante sua vida terrestre. A expressão “segundo as Escrituras” indica que a Ressurreição de Cristo realiza essas predições.

 

653.             A verdade da divindade de Jesus é confirmada por sua ressurreição. Disser Ele: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que “EU SOU” (Jo 8, 28). A ressurreição do Crucificado demonstrou que ele era verdadeiramente “EU SOU”, o Filho de Deus e Deus mesmo. São Paulo pôde declarar aos judeus: “A promessa que Deus fez aos nossos pais, Ele a cumpriu para nós ...; Ao ressuscitar Jesus, como está escrito no Salmo segundo: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei”” (At 13, 32-33). A ressurreição de Cristo está estreitamente ligada ao mistério da encarnação do Filho de Deus. É seu cumprimento segundo o desígnio eterno de Deus.


654.             Há duplo aspecto no mistério pascal: por sua morte Jesus nos liberta do pecado; por sua ressurreição ele nos abre as portas de uma vida nova. Esta é, por primeiro, a justificação que nos restitui a graça de Deus, “Para que, como Cristo foi ressuscitou dos mortos pela ação gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova” (Rm 6, 4). Ela consiste na vitória sobre a morte do pecado e na nova participação na graça. Ela realiza a adoção filial, pois os homens tornam-se irmãos de Cristo, como o próprio Jesus chama seus discípulos após a ressurreição: “Ide anunciar a meus irmãos” (Mt 28, 10). Irmãos não por natureza, mas por dom da graça, visto que esta filiação adotiva proporciona a participação real na vida do Filho único, que se revelou plenamente em sua ressurreição.

 

655.             A ressurreição de Cristo – e o próprio Cristo ressuscitado – é princípio e fonte de nossa ressurreição futura: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram… Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados” (1 Cor 15, 20-22). Na expectativa desta realização, Cristo ressuscitado vive no coração de seus fiéis. Nele, os cristãos “experimentam os milagres do mundo vindouro” (Hb 6, 5) e sua vida é atraída por Cristo ao seio da vida divina “para que os que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Cor 5, 15).

 

Resumindo:

 

656.             A fé na Ressurreição tem por objeto um acontecimento ao mesmo tempo historicamente atestado pelos discípulos, que encontraram verdadeiramente o Ressuscitado, e misteriosamente transcendente, como entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus.

 

657.             O sepulcro vazio e os panos de linho no chão significam, por si mesmos, que o corpo de Cristo escapou às correntes da morte e da corrupção pelo poder de Deus. Eles preparam os discípulos para o reencontro com o Ressuscitado.

 

658.             Cristo, “primogénito dentre os mortos” (Cl 1, 18), é o princípio de nossa própria ressurreição, desde já pela justificação de nossa alma, mais tarde pela vivificação de nosso corpo.

 

ARTIGO 6

“JESUS SUBIU AOS CÉUS, ESTÁ SENTADO À DIREITA DE DEUS PAI TODO-PODEROSO”

 

659.             “Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus” (Mc 16, 19). O corpo de Cristo foi glorificado desde o instante de sua ressurreição, como provam as propriedades novas e sobrenaturais das quais, a partir de então, seu corpo desfruta em caráter permanente. No entanto, durante os quarenta dias em que vai comer e beber familiarmente com seus discípulos e instruí-los sobre o Reino, sua glória permanece ainda velada sob os traços de uma humanidade comum. A última aparição de Jesus termina com a entrada irreversível de sua humanidade na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu onde, desde então, está sentado à direita de Deus. De modo totalmente excepcional e único, ele se mostrará a Paulo, que se considera “como um aborto” (1 Cor 15, 8), em uma última aparição a qual constituirá Apóstolo.

 

660.             O caráter velado da glória do Ressuscitado, durante este tempo, transparece em sua palavra misteriosa a Maria Madalena: “Ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: Subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Isso indica uma diferença de manifestação entre a glória de Cristo ressuscitado e a de Cristo exaltado à direita do Pai. O acontecimento ao mesmo tempo histórico e transcendente da ascensão marca a transição de uma para a outra.


661.             Esta última etapa permanece intimamente unida à primeira, isto é, à descida do céu realizada na encarnação. Só aquele que “saiu do Pai” pode “retornar ao Pai”: Cristo. “Ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu: o Filho do Homem” (Jo 3, 13). Entregue a suas forças naturais, a humanidade não tem acesso à “casa do Pai”, à vida e à felicidade de Deus. Só Cristo pôde abrir esta porta ao homem, “Ele, vossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade”.


662.             “E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12, 32). A elevação na cruz significa e anuncia a elevação da ascensão ao céu. É o começo dela. Jesus Cristo, o único Sacerdote da nova e eterna Aliança, não “entrou num santuário feito por mão humana, […] mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor” (Hb 9, 24). No céu, “Cristo exerce, em caráter permanente, seu sacerdócio”, por isso, “ele tem poder ilimitado para salvar aqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus, já que está sempre vivo para interceder por eles” (Hb 7, 25). Como “sumo sacerdote dos bens futuros” (Hb 9, 11), ele é o centro, é o ator principal da liturgia que honra o Pai nos céus.

 

663.             A partir de então, Cristo está sentado à direita do Pai: “Por direita do Pai entendemos a glória e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus, antes de todos os séculos, como Deus e consubstancial ao Pai, sentou-se corporalmente, depois de encarnar-se e de sua carne ser glorificada”.

 

664.             “Sentar-se à direita do Pai significa a inauguração do reino do Messias, realização da visão do profeta Daniel referente ao Filho do homem: “Foi-lhe entregue a soberania, a glória e a realeza. Todos os povos, nações e línguas hão de servir-lhe. Seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado e sua realeza é tal, que jamais será destruída” (Dn 7, 14). A partir desse momento, os Apóstolos se tornaram as testemunhas do “Reino que não terá fim”.

 

Resumindo:

 

665.             A ascensão de Cristo assinala a entrada definitiva da humanidade de Jesus no domínio celeste de Deus, de onde voltará, até lá, no entanto, o esconde aos olhos dos homens.

 

666.             Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, nos precede no reino glorioso do Pai para que nós, membros de seu corpo, vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente com ele.

 

667.             Tendo entrado uma vez por todas no santuário do céu, Jesus Cristo intercede sem cessar por nós como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo.

 

ARTIGO 7

“DONDE VIRÁ JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS”

 

                        I.          “Ele voltará na glória”

 

CRISTO JÁ REINA ATRAVÉS DA IGREJA…

668.             “Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14, 9). A ascensão de Cristo ao céu significa sua participação, em sua humanidade, no poder e na autoridade do próprio Deus. Jesus Cristo é Senhor: possui todo poder nos céus e na terra. Está “acima de todo o principado, potestade, fortaleza e senhorio”, pois o Pai “pôs tudo debaixo de seus pés” (Ef 1, 20-22). Cristo é o Senhor do cosmo e da história. Nele, a história do homem e mesmo toda a criação encontram sua “recapitulação”, sua consumação transcendente.

 

669.             Como Senhor, Cristo é também a cabeça da Igreja, que é seu Corpo. Elevado ao céu e glorificado, tendo assim cumprido plenamente sua missão, ele permanece na terra, em sua Igreja. A redenção é a fonte da autoridade que Cristo, em virtude do Espírito Santo, exerce sobre a Igreja. “O Reino de Cristo já está misteriosamente presente na Igreja”, “semente e início deste reino na terra”.

 

670.             Desde a Ascensão, o desígnio de Deus em sua consumação. Chegou-se à “última hora” (1 Jo 2, 18). “Portanto, a era final do mundo já chegou para nós, e a renovação do mundo está irrevogavelmente determinada e, de certo modo, já está antecipada nesta terra, pois já na terra a Igreja se reveste de verdadeira santidade, embora imperfeita”. O Reino de Cristo manifesta sua presença pelos sinais milagrosos que acompanham seu anúncio pela Igreja.


À ESPERA DE QUE TUDO LHE SEJA SUBMETIDO

671.             Apesar de presente em sua Igreja, o Reino de Cristo ainda não foio consumado “com grande poder e glória” (Lc 21, 27) pela vinda do Rei à terra. Esse reino é ainda atacado pelos poderes maus, embora estes já tenham sido radicalmente vencidos pela Páscoa de Cristo. Enquanto tudo não for submetido a ele, “enquanto não houver novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça, a Igreja peregrina lev consigo, em seus sacramentos e em suas instituições, que pertencem à presente, a figura deste mundo que passa. Ela mesma vive entre as criaturas que, até o presente, gemem e sofrem como que dores de parto e aguardam a manifestação dos filhos de Deus”. Por este motivo os cristãos oram, sobretudo na Eucaristia, para apressar a volta de Cristo, dizendo-lhe: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22, 20).

 

672.             Cristo afirmou, antes de sua Ascensão, que ainda não chegara a hora do estabelecimento glorioso do Reino messiânico esperado por Israel, que deveria trazer a todos os homens, segundo os profetas, a ordem definitiva da justiça, do amor e da paz. O tempo presente é, segundo o Senhor, o tempo do Espírito e do testemunho, mas é também um tempo ainda marcado pela “tristeza” e pela provação do mal, que não poupa a Igreja e inicia os combates dos últimos dias. É um tempo de expectativa e de vigília.


O ADVENTO GLORIOSO DE CRISTO, ESPERANÇA DE ISRAEL

673.             A partir da ascensão, a vinda de Cristo na glória é iminente, embora não nos caiba “saber os tempos ou momentos que o Pai determinou com a sua autoridade” (At 1, 7). Este acontecimento escatológico pode ocorrer a qualquer momento, ainda que estejam “retidos” tanto ele como a provação final que há de precedê-lo.

 

674.             A vinda do Messias glorioso depende, em cada momento da história, de seu reconhecimento por “todo o Israel”. Uma parte desse Israel se “endureceu” (Rm 11, 25) na “incredulidade” (Rm 11, 20) para com Jesus. São Pedro, depois de Pentecostes, afirma aos judeus de Jerusalém: “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam apagados. Assim, chegará o tempo do refrigério que vem do Senhor. Este enviará o Cristo, Jesus, que de antemão vos foi destinado. Entretanto, é necessário que o céu o acolha até que se cumpra o tempo da restauração de todas as coisas. Pois assim falou Deus, nos tempos passados, pela boca de seus santos profetas” (At 3, 19-21). São Paulo lhe faz eco: “Se a rejeição deles resultou na reconciliação do mundo, o que será o acolhimento deles senão a vida que vem dos mortos?” (Rm 11, 15). A entrada da “plenitude dos judeus” na salvação messiânica, depois da “plenitude dos pagãos”, dará ao povo de Deus a possibilidade de chegar “à estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4, 13), na qual “Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15, 2).

 

A PROVAÇÃO DERRADEIRA DA IGREJA

675.             Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final, que abalará a fé de muitos crentes. A perseguição, que acompanha sua peregrinação na terra desvendará o “mistério de iniquidade” sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens aparente solução a seus problemas, à custa do abandono da verdade. A impostura religiosa suprema é a do anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne.

 

676.             Esta impostura anticrística se esboça no mundo toda vez que se pretende realizar, na história, a esperança messiânica, a qual só pode se realizar para além dela, por meio do juízo escatológico: mesmo em sua forma branda, a Igreja rejeitou esta falsificação do reino vindouro sob o nome de milenarismo, sobretudo sob a forma política de um messianismo secularizado, “intrinsecamente perverso”.

 

677.             A Igreja só entrará na glória do Reino por meio desta derradeira páscoa, em que seguirá seu Senhor em sua morte e ressurreição. O Reino não se realizará, portanto, por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal, que fará sua Esposa, descer do céu. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal assumirá a forma do juízo final, depois do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa.

 

                    II.          Para julgar os vivos e os mortos

 

678.             Na linha dos profetas e de João Batista, Jesus anunciou, em sua pregação, o juízo do último dia. Serão então revelados a conduta de cada um e o segredo dos corações. Será também condenada a incredulidade culpada que fez pouco da graça oferecida por Deus. A atitude em relação ao próximo revelará o acolhimento ou a recusa da graça e do amor divino, Jesus dirá no último dia: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 40).

 

679.             Cristo é Senhor da vida eterna. O pleno direito de julgar definitivamente as obras e os corações dos homens pertence a ele como Redentor do mundo. Ele “adquiriu” este direito por sua cruz. O Pai entregou “ao filho o poder de julgar” (Jo 5, 22). Ora, o Filho não veio para julgar, mas para salvar e para dar a vida que está nele. Pela recusa da graça nesta vida, cada um já se julga a si mesmo, recebe de acordo com suas obras e pode até condenar-se pela eternidade, ao recusar o Espírito de amor.

 

Resumindo:

680.             Cristo Senhor já reina através da Igreja, mas ainda não lhe estão submetidas todas as coisas deste mundo. O triunfo do reino de Cristo não se dará sem a última investida das potências do mal.

 

681.             No dia do juízo, por ocasião do fim do mundo, Cristo virá na glória para realizar o triunfo definitivo do bem sobre o mal, os quais, como o trigo e o joio, terão crescido juntos ao longo da história.

 

682.             Ao vir no fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos, Cristo glorioso revelará a disposição secreta dos corações e retribuirá a cada um segundo suas obras e segundo tiver acolhido ou rejeitado sua graça.


CAPÍTULO TERCEIRO

CREIO NO ESPÍRITO SANTO

683.             “Ninguém será capaz de dizer “Jesus é Senhor”, a não ser sob influência do Espírito Santo” (1Cor 12, 3). “Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: “Abá, Pai!’” (Gl 4, 6). Este conhecimento de fé só é possível no Espírito Santo. Para estar em contato com Cristo, é preciso primeiro ter sido tocado pelo Espírito Santo. É ele que nos precede e suscita em nós a fé. Por nosso Batismo, primeiro sacramento da fé, a vida, que tem a sua fonte no Pai e nos é oferecida no Filho, nos é comunicada intimamente e pessoalmente pelo Espírito Santo na Igreja:

“O Batismo nos concede a graça do novo nascimento em Deus Pai, por meio de seu Filho, no Espírito Santo. Aqueles que têm o Espírito de Deus são conduzidos ao Verbo, isto é, ao Filho; o Filho os apresenta ao Pai, e o Pai lhes concede a incorruptibilidade. Portanto, sem o Espírito não é possível ver o Filho de Deus, sem o Filho ninguém pode aproximar-se do Pai, pois o conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho de Deus se faz pelo Espírito Santo”.

 

684.             O Espírito Santo, por sua graça, é o primeiro no despertar de nossa fé e na vida nova que é “conhecer o Pai e aquele que Ele enviou, Jesus Cristo”. Todavia, é o último na revelação das Pessoas da Santíssima Trindade. São Gregório de Nazianzeno, “o Teólogo”, explica esta progressão pela pedagogia da “condescendência” divina:

“O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai, mais obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho, fez entrever a divindade do Espírito. Agora o Espírito tem direito de cidadania entre nós e nos concede uma visão mais clara de si mesmo. Com efeito, não era prudente, quando ainda não se confessava a divindade do Pai, proclamar abertamente o Filho e, quando a divindade do Filho ainda não era admitida, acrescentar o Espírito Santo como um peso suplementar, para usarmos uma expressão um tanto ousada […]. Por meio de avanços e progressões – de glória em glória – a luz da Trindade resplandecerá em claridade mais brilhantes”.

 

685.             Crer no Espírito Santo é, pois, professar que o Espírito Santo é uma das Pessoas da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao Filho, “com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. Por isso tratou-se do mistério divino do Espírito Santo na “teologia” trinitária. Aqui, portanto, só se tratará do Espírito Santo na “economia” divina.

 

686.             O Espírito Santo está em ação com o Pai e o Filho do início até a consumação do projeto de nossa salvação. É, porém, nos “últimos tempos”, iniciados pela encarnação redentora do Filho, que ele é revelado e dado, reconhecido e acolhido como Pessoa. Então este Projeto Divino, realizado em Cristo, “Primogênito” e Cabeça da nova criação, poderá realizar-se na humanidade pela efusão do Espírito: a Igreja, a comunhão dos santos, a remissão dos pecados, a ressurreição da carne, a vida eterna.


ARTIGO 8

“CREIO NO ESPÍRITO SANTO”

687.             “Ninguém conhece o que é de Deus, a não ser o Espírito de Deus” (1 Cor 2, 11). Ora, seu Espírito que o revela nos dá a conhecer Cristo, seu Verbo, sua Palavra viva, mas não se revela a si mesmo. Aquele que “falou pelos profetas” nos faz ouvir a palavra do Pai. Mas, ele mesmo, nós não o ouvimos. Só o conhecemos no momento em que nos revela o Verbo e nos dispõe a acolhê-lo na fé. O Espírito de verdade, que desvela o Cristo, não fala de si mesmo. Tal aniquilamento, propriamente divino, explica o  motivo pelo qual “o mundo não é capaz de receber” o Espírito, “porque não o vê, nem o conhece”, enquanto os que creem em Cristo o conhecem, porque permanece junto deles (Jo 14, 17).

 

688.             A Igreja, comunhão viva na fé dos Apóstolos, por ela transmite, é o lugar de nosso conhecimento do Espírito Santo:

 nas Escrituras que ele inspirou:

— na Tradição, da qual os Padres da Igreja são testemunhas sempre atuais;

— no Magistério da Igreja, ao qual ele assiste;

— na liturgia sacramental, por meio de suas palavras e de seus símbolos, na qual o Espírito Santo nos coloca em comunhão com Cristo;

—  na oração, na qual ele intercede por nós;

—  nos carismas e nos ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;

— nos sinais de vida apostólica e missionária;

— no testemunho dos santos, no qual ele manifesta sua santidade e continua a obra da salvação.

 

                    I.          A missão conjunta do Filho e do espírito

 

689.             Aquele que o Pai enviou a nossos corações, o Espírito de seu Filho, é realmente Deus. Consubstancial ao Pai e ao Filho, ele é inseparável dos dois, tanto na vida íntima da Trindade como em seu dom de amor pelo mundo. Entretanto, ao adorar a Santíssima Trindade, vivificante, consubstancial e indivisível, a fé da Igreja professa também a distinção das Pessoas. Quando o Pai envia seu Verbo, envia sempre seu Sopro: missão conjunta em que o Filho e o Espírito Santo são distintos, mas inseparáveis. Sem dúvida, é Cristo que aparece – a imagem visível de Deus invisível – mas é o Espírito Santo quem o revela.

 

690.             Jesus é Cristo, “ungido”, porque o Espírito é a unção dele; e tudo o que advém a partir da encarnação decorre desta plenitude. Quando finalmente Cristo é glorificado, pode, por sua vez, de junto do Pai, enviar o Espírito aos que creem nele: comunica-lhes sua glória, isto é, o Espírito Santo que o glorifica. A missão conjunta se desdobrará então nos filhos adotados pelo Pai no corpo de seu Filho: a missão do Espírito de adoção será uni-los a Cristo e fazê-los viver nele:

“A noção da unção sugere […] que não existe nenhuma distância entre o Filho e o Espírito. Com efeito, da mesma forma que entre a superfície do corpo e a unção do óleo nem a razão nem os sentidos conhecem nenhum intermediário, assim é imediato o contato do Filho com o Espírito, em consequência, aquele que vai entrar em contato com o Filho, através da fé, deve, necessariamente, entrar primeiro em contato com o óleo”.

 

                II.          O nome, as denominações e os símbolos do Espírito Santo

 

O NOME PRÓPRIO DO ESPÍRITO SANTO

691.             “Espírito Santo”, este é o nome próprio daquele que adoramos e glorificamos com o Pai e o Filho. A Igreja o recebeu do Senhor e o professa no Batismo de seus novos filhos.

O termo “Espírito” traduz o termo hebraico “ruah”, o qual, em seu sentido primeiro, significa sopro, ar, vento. Jesus utiliza justamente a imagem sensível do vento para sugerir a Nicodemos a novidade transcendente daquele que é pessoalmente o Sopro de Deus, o Espírito divino. Por outro lado, Espírito e Santo são atributos divinos comuns às três Pessoas divinas. No entanto, ao juntar os dois termos, a Escritura, a liturgia e a linguagem teológica designam a Pessoa inefável do Espírito Santo, sem possibilidade de equívoco com os outros empregos dos termos “espírito” e “santo”.

 

AS DENOMINAÇÕES DO ESPÍRITO SANTO

692.             Ao anunciar e prometer a vinda do Espírito Santo, Jesus o denomina “Paráclito”, literalmente: “aquele que é chamado para perto de, “defensor” (Jo 14, 16. 26; 15, 26; 16, 7). “Paráclito” é habitualmente traduzido por “Consolador”, sendo Jesus o primeiro consolador. O próprio Senhor chama ao Espírito Santo de “Espírito de verdade”.

 

693.             Além de seu nome próprio, que é o mais empregado nos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas, encontram-se em São Paulo as denominações: “o Espírito prometido” (Gl 3, 14; Ef 1, 13), “o Espírito de adoção” (Rm 8, 15: Gl 4, 6), “o Espírito de Cristo” (Rm 8, 9), “o Espírito do Senhor” (2 Cor 3, 17); “o Espírito de Deus” (Rm 8, 9. 14; 15, 19; 1 Cor 6, 11; 7, 40). Em São Pedro, encontra-se “o Espírito de glória” (1 Pe 4, 14).


OS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO

694.              A água. O simbolismo da água é significativo da ação do Espírito Santo no Batismo, pois, após a invocação do Espírito Santo, ela se torna o sinal sacramental eficaz do novo nascimento. Assim como a gestação de nosso primeiro nascimento operou-se na água, da mesma forma a água batismal significa realmente que nosso nascimento para a vida divina nos é dado no Espírito Santo. “Batizados em um só Espírito” também “batizados num só Espírito” (1 Cor 12, 13). O Espírito é, pois, também pessoalmente a água viva que jorra de Cristo crucificado como de sua fonte e que em nós jorra para a vida eterna.

 

695.             A unção. O simbolismo da unção com óleo também significa o Espírito Santo, a ponto de tornar-se seu sinônimo. Na iniciação cristã, ela é o sinal sacramental da confirmação, a qual é adequadamente chamada, nas Igrejas do Oriente, de “crismação”. Para perceber toda a força deste simbolismo, há que retornar à unção primeira realizada pelo Espírito Santo: a de Jesus. Cristo (“messias” em hebraico) significa “ungido” do Espírito de Deus. Houve “ungidos” do Senhor na Antiga Aliança, de modo eminente o rei Davi. Jesus, porém, é o ungido de Deus de maneira única: a humanidade que o Filho assume é totalmente “ungida do Espírito Santo”. Jesus é constituído “Cristo” pelo Espírito Santo. A Virgem Maria concebe Cristo do Espírito Santo. Este, pelo anjo, o anuncia como Cristo por ocasião de seu nascimento e conduz Simeão ao Templo para ver o Cristo do Senhor. É ele que plenifica o Cristo, é o poder dele que sai de Cristo em seus atos de cura e de salvação. Finalmente, é ele que ressuscita Jesus dentre os mortos. Então, constituído plenamente “Cristo” em sua humanidade vitoriosa sobre a morte, Jesus difunde em profusão o Espírito Santo até “os santos” constituírem, em sua união com a humanidade do Filho de Deus, “esse homem perfeito [...] à estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4, 13): “o Cristo total”, segundo a expressão de Santo Agostinho.

 

696.             O fogo. Enquanto a água significa o nascimento e a fecundidade da vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo. O profeta Elias, que “surgiu como o fogo, e sua palavra queimava como uma tocha” (Eclo 48, 1), atrai, por sua oração, o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo, figura do fogo do Espírito Santo que transforma o que toca. João Batista, que caminha diante do Senhor “com o espírito e o poder de Elias” (Lc 1, 17), anuncia o Cristo como aquele que “batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3, 16), esse Espírito do qual Jesus dirá: “Fogo eu vim lançar sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12, 49). Sob a forma de línguas, “que se diriam de fogo”, o Espírito Santo pousa sobre os discípulos na manhã de Pentecostes e os enche de si. A tradição espiritual manterá este simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da ação do Espírito Santo. “Não apagueis o Espírito” (1 Ts 5, 19).

 

697.             A nuvem e a luz. Estes dois símbolos são inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as teofanias do Antigo Testamento, a nuvem – ora escura, ora luminosa – revela o Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência de sua glória: com Moisés sobre a montanha do Sinai, na tenda de reunião e durante a caminhada no deserto; com Salomão por ocasião da dedicação do Templo. Estas figuras são cumpridas por Cristo no Espírito Santo. É este que paira sobre a Virgem Maria e a cobre “com sua sombra”, para que conceba e dê à luz Jesus. No monte da transfiguração, é ele que “sobrevém na nuvem que toma” Jesus, Moisés e Elias, Pedro, Tiago e João “debaixo de sua sombra”. Da nuvem sai uma voz que diz: “Este é meu Filho, o Eleito, Escutai-o!” (Lc 9, 34-35). É, finalmente essa Nuvem que “subtrai Jesus aos olhos” dos discípulos no dia de sua ascensão e que o revelará Filho do homem em sua glória no dia de sua vinda.

 

698.             O selo. É um símbolo próximo ao da unção. Com efeito, é Cristo que Deus Pai “assinalou com seu selo” (Jo 6, 27) e é nele também que o Pai nos marca com seu selo. Por indicar o efeito indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem, a imagem do selo (“sphragis”) tem sido utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o “caráter” indelével, impresso por estes três sacramentos que não podem ser reiterados.

 

699.             A mão. É impondo as mãos que Jesus cura os doentes e abençoa as criancinhas. Em nome dele, os Apóstolos farão o mesmo. Mais ainda: é pela imposição das mãos dos Apóstolos que o Espírito Santo é dado. A epístola aos Hebreus inclui a imposição das mãos entre os “artigos fundamentais” de seu ensinamento. A Igreja conservou este sinal da efusão onipotente do Espírito Santo em suas epicleses sacramentais.

 

700.             O dedo. “É pelo dedo de Deus que (Jesus) expulsa os demônios”. “Deu-lhe as duas tábuas da aliança. Eram tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus” (Ex 31, 18), a “letra de Cristo”, entregue aos cuidados dos Apóstolos, é escrita “com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, nos corações” (2 Cor 3, 3). O hino “Veni, Creator Spiritus” (Vem, Espírito criador) invoca o Espírito Santo como “dedo da mão direita de Deus” – “dexterae dei tu digitus”.

 

701.             A pomba. No fim do dilúvio (cujo simbolismo está ligado ao Batismo), a pomba solta por Noé volta com um ramo novo de oliveira no bico, sinal de que a terra é novamente habitável. Quando Cristo sobe da água de seu Batismo, o Espírito Santo, em forma de uma pomba, desce sobre ele e sobre ele permanece. O Espírito desce e repousa no coração purificado dos batizados. Em certas igrejas, a santa reserva eucarística é conservada em um recipiente metálico em forma de pomba (o columbarium), suspenso acima do altar. O símbolo da pomba representando o Espírito Santo é tradicional na iconografia cristã.

 

             III.          O Espírito e a Palavra de Deus, no tempo das promessas

 

702.             Desde o começo até a “plenitude do tempo”, a missão conjunta do Verbo e do Espírito do Pai permanece escondida, mas está em ação. O Espírito de Deus prepara o tempo do Messias, e os dois, sem serem ainda plenamente revelados, já são prometidos, a fim de serem esperados e acolhidos quando se manifestarem. Por isso, quando a Igreja lê o Antigo Testamento, procura nele o que o Espírito, “que falou pelos profetas”, quer falar-nos a respeito de Cristo.

Por “profetas”, a fé da Igreja aqui entende todos aqueles que o Espírito Santo inspirou para o anúncio de viva voz na redação dos livros sagrados, tanto do Antigo como do Novo Testamento. A tradição judaica distingue a Lei (os cinco primeiros livros ou Pentateuco), os Profetas (nossos livros denominados históricos e proféticos) e os Escritos (sobretudo sapienciais, em particular os Salmos).

 

NA CRIAÇÃO

703.             A Palavra de Deus e seu Sopro estão na origem do ser e da vida de toda a criatura:

“Ao Espírito Santo cabe reinar, santificar e animar a criação, pois é Deus consubstancial ao Pai e ao Filho […]. A ele cabe o poder sobre a vida, pois, sendo Deus, ele conserva a criação no Pai pelo Filho.

 

704.             “Quanto ao homem, Deus o modelou com as próprias mãos [insto é, o Filho e o Espírito Santo] […] e imprimiu, na carne modelada, sua própria forma, de modo que até o que fosse visível tivesse a forma divina”.

 

O ESPÍRITO DA PROMESSA

705.             Desfigurado pelo pecado e pela morte, o homem continua sendo “à imagem de Deus”, à imagem do Filho, mas é “privado da glória de Deus”, privado da “semelhança”. A promessa feita a Abraão inaugura a Economia da salvação, no fim da qual o próprio Filho assumirá “a imagem” e a restaurará na “semelhança” com o Pai, restituindo-lhe a glória, o Espírito “que dá a vida”.

 

706.             Contra toda esperança humana, Deus promete a Abraão uma descendência, como fruto da fé e do poder do Espírito Santo. Nela serão abençoadas todas as nações da terra. Esta descendência será o Cristo, no qual a efusão do Espírito Santo reunirá os filhos de Deus dispersos. Ao comprometer-se por juramento, Deus já se compromete a dar seu Filho bem-amado e o Espírito da promessa, que prepara a redenção do Povo que Deus adquiriu para si.

 

NAS TEOFANIAS E NA LEI

707.             As teofanias (manifestações de Deus) iluminam o caminho da promessa, desde os patriarcas até Moisés e de Josué até as visões que inauguram a missão dos grandes profetas. A tradição cristã sempre reconheceu que, nessas teofanias, o Verbo de Deus se fazia ver e ouvir, revelado e, ao mesmo tempo, “oculto” na nuvem do Espírito Santo.

 

708.             Esta pedagogia de Deus aparece especialmente no dom da Lei, a qual foi dada como um “pedagogo” para conduzir o Povo a Cristo. Porém sua impotência para salvar o homem privado da “semelhança” divina e do conhecimento maior que ela dá do pecado suscita o desejo do Espírito Santo. As lamentações dos Salmos atestam isto.


NO REINO E NO EXÍLIO

709.             A Lei, sinal da promessa e da aliança, deveria ter regido o coração e as instituições do povo nascido da fé de Abraão. “Se realmente ouvirdes minha voz e guardardes a minha aliança […], sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19, 5-6). Depois de David, Israel, porém, sucumbe à tentação de tornar-se um reino como as demais nações. Ora, o Reino, objeto da promessa feita a Davi, será obra do Espírito Santo; ele pertencerá aos pobres segundo o Espírito.

 

710.             O esquecimento da Lei e a infidelidade à Aliança desembocam na morte: é o exílio, aparentemente fracasso das promessas, mas, na realidade, fidelidade misteriosa do Deus salvador e início da restauração prometida, porém segundo o Espírito. Era preciso que o Povo de Deus sofresse essa purificação. O exílio já traz a sombra da cruz no projeto de Deus; e o restante dos pobres que voltam de lá é uma das figuras mais transparentes da Igreja.

 

A EXPECTATIVA DO MESSIAS E DE SEU ESPÍRITO

711.             “Eis que estou fazendo coisas novas” (Is 43, 19): duas linhas proféticas vão desenhar-se, uma fundada na espera do Messias, outra no anúncio de um Espírito Novo, ambas convergindo no pequeno “Resto”, o povo dos pobres, que aguarda na esperança a “consolação de Israel” e “a libertação de Jerusalém” (Lc 2, 25.38).

Vimos anteriormente como Jesus realiza as profecias que lhe dizem respeito. Aqui nos limitamos àquelas em que aparece mais a relação entre o Messias e seu Espírito.

712.             Os traços do rosto do Messias esperado começam aparecer no Livro do Emanuel (“Isaías disse isso porque viu a glória dele e profetizou a seu respeito”: Jo 12, 41), em especial em Is 11, 1-2:

“Um broto vai surgir do tronco seco de Jessé, das velhas raízes, um ramo brotará. Sobre ele há de pousar o espírito do Senhor, espírito de sabedoria e compreensão, espírito de prudência e valentia, espírito de conhecimento e temor do Senhor”.

 

713.             Os traços do Messias são revelados sobretudo nos cantos do Servo. Esses cantos anunciam o sentido da Paixão de Jesus e indicam, assim, a maneira como ele derramará o Espírito Santo para vivificar a multidão: não partindo de fora, mas desposando nossa “forma de escravo” (Fl 2, 7). Tomando sobre si nossa morte, ele pode nos comunicar seu próprio Espírito de vida.

 

714.             Por isso, Cristo inaugura o anúncio da Boa Nova, fazendo sua esta passagem de Isaías (Lc 4, 18-19):

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do Senhor”.

 

715.             Os textos proféticos diretamente referentes ao envio do Espírito Santo são oráculos em que Deus fala ao coração de seu povo na linguagem da promessa, com as tônicas do “amor e da fidelidade”, cujo cumprimento São Pedro proclamará na manhã de Pentecostes. Segundo essas promessas, nos ‘últimos tempos’ o Espírito do Senhor renovará o coração dos homens, gravando neles uma Lei nova; reunirá e reconciliará os povos dispersos e divididos; transformará a criação primeira e Deus habitará nela com os homens na paz.

 

716.             O povo dos “pobres”, os humildes e os mansos, totalmente entregues aos desígnios misteriosos de seu Deus, os que esperam a justiça não dos homens, mas do Messias, é finalmente a grande obra da missão oculta do Espírito Santo durante o tempo das promessas para preparar a vinda de Cristo. Sua qualidade de coração, purificado e iluminado pelo Espírito, se exprime nos Salmos. Nesses pobres, o Espírito prepara para o Senhor “um povo bem disposto”.

 

             IV.          O espírito de Cristo na plenitude do tempo

 

JOÃO, PRECURSOR, PROFETA E BATISTA

717.             “Veio um homem enviado por Deus. Seu nome era João” (Jo 1, 6). João “pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo” (Lc 1, 15-41), por obra do próprio Cristo, que a Virgem Maria acabava de conceber do Espírito Santo. A “visitação” de Maria a Isabel tornou-se, assim, visita de Deus ao seu povo.

 

718.             João é “Elias que deve vir”: o fogo do Espírito habita nele e o faz “correr à frente” (na qualidade de “precursor”) do Senhor que vem. Em João, o Precursor, o Espírito Santo conclui a obra de “preparar um povo bem disposto para o Senhor” (Lc 1, 17).

 

719.             João é “mais do que um profeta”. Nele, o Espírito Santo conclui a tarefa de “falar pelos profetas”. João encerra o ciclo dos profetas inaugurado por Elias. Anuncia a iminência da consolação de Israel, é a “voz” do Consolador que vem. Como fará o Espírito de verdade, “ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz” (Jo 1, 7). Aos olhos de João, o Espírito realiza, assim, as “pesquisas dos profetas” e o “desejo” dos anjos: “Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, é ele quem batiza com o Espírito Santo. Eu vi, e por isso dou testemunho: Ele é o Filho de Deus” (Jo 1, 33-36).

 

720.             Com João Batista, o Espírito Santo inaugura, o prefigurando, o que realizará com e em Cristo: restituirá ao homem “a semelhança” divina. O batismo de João era para a penitência, o batismo da água e no Espírito será um novo nascimento.

 

“ALEGRA-TE, CHEIA DE GRAÇA”

721.             Maria, a Mãe de Deus toda santa, sempre Virgem, é a obra-prima da missão do Filho e do Espírito na plenitude do tempo. Pela primeira vez no plano da salvação e porque o seu Espírito a preparou, o Pai encontra a Morada em que seu Filho e seu Espírito podem habitar entre os homens. É neste sentido que a Tradição da Igreja muitas vezes leu, com relação a Maria, os mais belos textos sobre a Sabedoria: Maria é exaltada e apresentada na liturgia como a “Sede da Sabedoria”. Nela começam a se manifestar as “maravilhas de Deus” que o Espírito vai realizar em Cristo e na Igreja.

 

722.             O Espírito Santo preparou Maria com sua graça. Convinha que fosse “cheia de graça” a mãe daquele em quem “habita corporalmente a plenitude da divindade” (Cl 2, 9). Por pura graça, ela foi concebida sem pecado como a mais humilde das criaturas; a mais capaz de acolher o Dom inefável do Todo-Poderoso. Com razão, o anjo Gabriel a saúda como a “Filha de Sião”: “Alegra-te”. É a ação de graças de todo o povo de Deus e, portanto, da Igreja, que ela, em seu cântico, faz subir até ao Pai no Espírito Santo, enquanto traz em si o Filho Eterno.

 

723.             Em Maria, o Espírito Santo realiza o desígnio benevolente do Pai. É pelo Espírito Santo que a Virgem concebe e dá à luz o Filho de Deus. Sua virgindade transforma-se em fecundidade única pelo poder do Espírito e da fé.

 

724.             Em Maria, o Espírito Santo manifesta o Filho do Pai tornado Filho da Virgem. Ela é a sarça ardente da teofania definitiva: repleta do Espírito Santo, ela mostra o Verbo na humildade de sua carne; e é aos pobres e às primícias das nações que ela o dá a conhecer.

 

725.             Por Maria o Espírito começa a pôr em comunhão com Cristo os homens, objetos do amor benevolente de Deus. Os humildes são sempre os primeiros a recebê-lo: os pastores, os magos, Simeão e Ana, os esposos de Caná, os primeiros discípulos.

 

726.             Ao final desta missão do Espírito, Maria torna-se a “Mulher”, nova Eva, “mãe dos viventes”, Mãe do “Cristo total”. É nesta qualidade que ela está presente com os Doze, perseverantes “na oração em comum” (At 1, 14), no alvorecer dos “últimos tempos” que o Espírito inaugura na manhã de Pentecostes, com a manifestação da Igreja.

 

O CRISTO JESUS

727.             Toda a missão do Filho e do Espírito Santo, na plenitude do tempo, está contida no fato de o Filho ser, desde sua encarnação, o Ungido do Espírito do Pai: Jesus é o Cristo, o Messias. Todo o segundo capítulo do Símbolo da Fé deve ser lido sob esta luz. Toda a obra de Cristo é missão conjunta do Filho e do Espírito Santo. Aqui mencionaremos somente o que se diz respeito à promessa do Espírito Santo feita por Jesus e ao dom do Espírito, por parte do Senhor glorificado.

 

728.             Jesus revela plenamente o Espírito Santo somente depois de ter sido ele mesmo glorificado por sua Morte e Ressurreição. Contudo, pouco a pouco o deixa entrever, até mesmo em seus ensinamentos às multidões, quando revela que sua Carne será alimento para a vida do mundo. Sugere-o também a Nicodemos, à Samaritana e aos que participam da festa dos Tabernáculos. A seus discípulos, fala dele abertamente a propósito da oração e do testemunho que deverão dar.

 

729.             Somente quando chega a Hora em que vai ser glorificado, Jesus promete a vinda do Espírito Santo, pois sua morte e ressurreição serão o cumprimento da Promessa feita aos Apóstolos: o Espírito de verdade, o Paráclito, será dado pelo Pai a pedido de Jesus. Ele será enviado pelo Pai em nome de Jesus; Jesus o enviará de junto do Pai, pois ele procede do Pai. O Espírito Santo virá, nós o conheceremos, ele ficará conosco para sempre, ele permanecerá conosco; ele nos ensinará tudo e nos lembrará de tudo o que Cristo nos disse, e dele dará testemunho; nos conduzirá à verdade inteira e glorificará a Cristo. Quanto ao mundo, o convencerá sobre o pecado, a justiça e o juízo.


730.             Finalmente chega a Hora de Jesus. Jesus entrega seu espírito nas mãos do Pai no momento em que com sua morte vence a morte, “ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai (Rm 6, 4), dá imediatamente o Espírito Santo, “soprando” sobre seus discípulos. A partir dessa Hora, a missão de Cristo e do Espírito passa a ser a missão da Igreja: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20, 21).

 

                 V.          O Espírito e a Igreja nos últimos tempos

 

PENTECOSTES

731.             No dia de Pentecostes (no fim das sete semanas pascais), a páscoa de Cristo se realiza na efusão do Espírito Santo, que é manifestado, dado  e comunicado como Pessoa divina: de sua plenitude, Cristo, Senhor, derrama em profusão o Espírito.

 

732.             Nesse dia é revelado plenamente a Santíssima Trindade. A partir desse dia, o Reino anunciado por Cristo está aberto aos que creem nele. Na humildade da carne e na fé, eles já participam da comunhão da Santíssima Trindade. Por sua vinda, que não cessa, o Espírito Santo faz o mundo entrar nos “últimos tempos”, o tempo da Igreja, o Reino já recebido em herança, mas ainda não consumado:

“Vimos a verdadeira Luz, recebemos o Espírito celeste, encontramos a verdadeira fé: adoramos a Trindade indivisível, pois foi ela quem nos salvou”.

 

O ESPÍRITO SANTO – O DOM DE DEUS

733.             “Deus é Amor” (1 Jo 4, 8.16) e o Amor é o primeiro dom. Ele contém todos os demais. Este amor, Deus o derramou “em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5).

 

734.             Pelo fato de estarmos mortos, ou, pelo menos, feridos pelo pecado, o primeiro efeito do dom do amor é a remissão de nossos pecados. É “a comunhão do Espírito Santo” (2 Cor 13, 13) que, na Igreja, restitui aos batizados a semelhança divina perdida pelo pecado.


735.             Ele dá, então, o “penhor” ou as “primícias” de nossa herança: a própria vida da Santíssima Trindade, que é amar como Ele nos amou. Este amor (o amor de 1 Cor 13) é o princípio da vida nova em Cristo, possibilitada pelo fato de termos recebido “o poder do Espírito Santo” (At 1, 8).

 

736.             Por este poder do Espírito, os filhos de Deus podem dar fruto. Aquele que nos enxertou na verdadeira vida nos fará produzir o fruto Espírito que é “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5, 22-23). O Espírito é nossa vida; quanto mais renunciarmos a nós mesmos, tanto mais o espírito nos faz agir.

“Por estarmos em comunhão com Ele, o Espírito Santo nos torna espirituais, nos readmite no Paraíso; nos reconduz ao Reino dos céus e à adoção filial, nos dá a confiança de chamarmos Deus de Pai e de participarmos na graça de Cristo, de sermos chamados filhos da luz e de termos parte na vida eterna”.

 

O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA

737.             A missão de Cristo e do Espírito Santo realiza-se na Igreja, Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. Esta missão conjunta associa, a partir de então, os fiéis de Cristo à sua comunhão com o Pai no Espírito Santo. O Espírito prepara os homens, antecipa-se a eles por sua graça, para atraí-los a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes sua palavra, abrindo-lhes o espírito à compreensão de sua morte e ressurreição. Torna-lhes presente o mistério de Cristo, sobretudo na Eucaristia, a fim de reconciliá-los, de coloca-los em comunhão com Deus, para que produzam “muito fruto”.

 

738.             Assim, a missão da Igreja não é acrescentada à de Cristo e do Espírito Santo, senão que é seu sacramento: com todo o seu ser e com todos os seus membros, a Igreja é enviada a anunciar e testemunhar, atualizar e difundir o mistério da comunhão da Santíssima Trindade (a ser tratado no próximo artigo):

“Nós todos, que recebemos o único e mesmo espírito, a saber, o Espírito Santo, nos unimos profundamente entre nós e com Deus. De fato, embora sejamos separadamente e Cristo faça habitar em cada um de nós o Espírito do Pai e o dele, este Espírito é, entretanto, único e indivisível. Ele reconduz à unidade aqueles que são diferentes entre si […] e faz de todos, nele mesmo, uma única e mesma coisa. Tal como o poder da santa humanidade de Cristo faz com que todos aqueles em quem ela se encontra formem um só corpo, assim também o único e indivisível Espírito de Deus, que habita em todos, conduz a todos à unidade espiritual”.

 

739.             Por ser o Espírito Santo a unção de Cristo, é Cristo, Cabeça do corpo, que o difunde em seus membros, para alimentá-los, curá-los, organizá-los em suas mútuas funções, vivificá-los, enviá-los a testemunhar, associá-los à sua oferta ao Pai e à sua intercessão pelo mundo inteiro. Pelos sacramentos da Igreja, Cristo comunica aos membros de seu Corpo seu Espírito Santo e Santificador (a ser tratado na segunda parte do Catecismo).

 

740.             Essas “maravilhas de Deus”, oferecidas aos crentes nos sacramentos da Igreja, produzem seus frutos na vida nova em Cristo, segundo o Espírito (a ser tratado na terceira parte do Catecismo).

 

741.             “O Espírito Santo vem em socorro da nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26). O Espírito Santo, artífice das obras de Deus, é o mestre da oração (a ser tratado na quarta parte do Catecismo).

 

Resumindo

 

742.             “E, porque sois filhos, enviou Deus a nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Abá! Pai!” (Gl 4, 6).

 

743.             Desde o início até a consumação do tempo, quando Deus envia seu Filho, envia sempre seu Espírito: a missão dos dois é conjunta e inseparável.

 

744.             Na plenitude do tempo, o Espírito Santo realiza em Maria, todas as preparações para a vinda de Cristo no povo de Deus. Pela ação do Espírito Santo nela, o Pai dá ao mundo o Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1, 23).

 

745.             O Filho de Deus é consagrado Cristo (Messias) pela unção do Espírito Santo em sua encarnação.

 

746.             Por sua morte e ressurreição, Jesus é constituído Senhor e Cristo na glória. Da sua plenitude, derrama o Espírito Santo sobre os Apóstolos e a Igreja.

 

747.             O Espírito Santo que Cristo, Cabeça, derrama em seus membros constrói, anima e santifica a Igreja. Ela é o sacramento da comunhão da Santíssima Trindade e dos homens.

A Infância e Adolescência Missionária (IAM) é uma Obra Pontifícia fundada em 19 de maio de 1843, por Dom Carlos Forbin-Janson. Presentes nos cinco continentes, as crianças e adolescentes missionários cultivam o espírito missionário universal, recitando uma Ave Maria por dia e doando um dinheiro por mês.

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