Catecismo da Igreja Católica 1-100

 

CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO SUMO

PONTÍFICE JOÃO PAULO II

FIDEI DEPOSITUM

PARA A PUBLICAÇÃO DO CATECISMO

DA IGREJA CATÓLICA

REDIGIDO DEPOIS DO CONCÍLIO VATICANO II

 

Aos veneráveis Irmãos Cardeais, Arcebispos, Bispos, Presbíteros, Diáconos e a todos os membros do Povo de Deus

 

                        I.          INTRODUÇÃO

Guardar o Depósito da Fé é missão que o Senhor confiou à sua Igreja e que ela cumpre em todos os tempos. O Concílio Ecumênico Vaticano II, inaugurado há trinta anos pelo meu predecessor João XXIII, de feliz memória, tinha como intenção e como finalidade pôr em evidência a missão apostólica e pastoral da Igreja e, ao fazendo resplandecer a verdade do Evangelho, levar todos os homens a procurarem e acolherem o amor de Cristo que excede toda a ciência (cf. Ef 3,19). 

Ao Concílio, o Papa João XXIII tinha confiado como tarefa principal guardar e apresentar melhor o precioso depósito da doutrina cristã, para tornar mais acessível aos fiéis de Cristo e a todos os homens de boa vontade. Portanto, o Concílio não devia, em primeiro lugar, condenar os erros da época, mas sobretudo empenhar-se por mostrar serenamente a força e a beleza da doutrina da fé. 'Iluminada pela luz deste Concílio', dizia o Papa, 'a Igreja crescerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energias, olhará intrépida para o futuro. É nosso dever dedicar-nos, com vontade pronta e sem temor, àquele trabalho que o nosso tempo exige, prosseguindo assim o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos'.

Com a ajuda de Deus, os Padres conciliares puderam elaborar, em quatro anos de trabalho, um conjunto considerável de exposições doutrinárias e de diretrizes pastorais oferecidas a toda a Igreja. Pastores e fiéis encontram ali orientações para aquela 'renovação de pensamentos, de atividades, de costumes e de força moral, de alegria e de esperança, que foi o objetivo do Concílio'.

Depois da sua conclusão, o Concílio não cessou de inspirar a vida da Igreja. Em 1985, pude afirmar: 'Para mim – que tive a graça especial de nele participar e colaborar no seu desenvolvimento – o Vaticano II foi sempre, e é de modo particular nestes anos do meu Pontificado, o constante ponto de referência de toda a minha ação pastoral, no consciente empenho de traduzir as suas diretrizes em aplicação concreta e fiel, a nível de cada Igreja e na Igreja inteira. É preciso incessantemente recomeçar daquela fonte'.

Neste espírito, a 25 de janeiro de 1985, convoquei uma Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, por ocasião do vigésimo aniversário do encerramento do Concílio. A finalidade desta Assembleia era celebrar as graças e os frutos espirituais do Concílio Vaticano II, aprofundar o seu ensinamento para aderir melhor a ele e promover o conhecimento e a aplicação do mesmo.

Nessa ocasião, os Padres sinodais afirmaram: 'Muitíssimos expressaram o desejo de que seja composto um Catecismo ou compêndio de toda a doutrina católica, tanto em matéria de fé como de moral, para que ele seja como um ponto de referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser preparados nas diversas regiões. A apresentação da doutrina deve ser bíblica e litúrgica, oferecendo ao mesmo tempo uma doutrina sã e adaptada à vida atual dos cristãos'. Depois do encerramento do Sínodo, fiz meu este desejo, considerando que ele 'corresponde à verdadeira necessidade da Igreja universal e das Igrejas particulares'.

Como não havemos de agradecer de todo o coração ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer à toda a Igreja, com o título de 'Catecismo da Igreja Católica', este 'texto de referência' para uma catequese renovada nas fontes vivas da fé!

Depois da renovação da Liturgia e da nova codificação do Direito Canônico da Igreja Latina e dos cânones das Igrejas Orientais Católicas, este Catecismo trará um contributo muito importante àquela obra de renovação da vida eclesial inteira, querida e iniciada pelo Concílio Vaticano II.

 

 II.          ITINERÁRIO E ESPÍRITO DA REDAÇÃO DO TEXTO

O 'Catecismo da Igreja Católica' é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos de intenso trabalho, conduzido com um espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor.

Em 1986, confiei a uma Comissão de doze Cardeais e Bispos, presidida pelo senhor Cardeal Joseph Ratzinger, o encargo de preparar um projeto para o Catecismo requerido pelos Padres do Sínodo. Uma Comissão de redação, composta por sete Bispos diocesanos, peritos em teologia e em catequese, coadjuvou a Comissão no seu trabalho.

A Comissão, encarregada de dar as diretrizes e de vigiar sobre o desenvolvimento dos trabalhos, seguiu atentamente todas as etapas da redação das nove sucessivas composições. A Comissão de redação, por sua vez, assumiu a responsabilidade de escrever o texto e lhe inserir as modificações pedidas pela Comissão e de examinar as observações de numerosos teólogos, exegetas e catequistas, e sobretudo dos Bispos do mundo inteiro, a fim de melhorar o texto. A Comissão foi sede de intercâmbios frutuosos e enriquecedores, para assegurar a unidade e a homogeneidade do texto.

O projeto tornou-se objeto de vasta consulta de todos os Bispos católicos, suas Conferências Episcopais ou dos seus Sínodos, dos Institutos de teologia e de catequética. No seu conjunto, ele teve um acolhimento amplamente favorável da parte do Episcopado. É justo afirmar que este Catecismo é o fruto de uma colaboração de todo o Episcopado da Igreja Católica, o qual acolheu com generosidade o meu convite a assumir a própria parte de responsabilidade em uma iniciativa que diz respeito, intimamente, à vida eclesial. Tal resposta suscita em um profundo sentimento de alegria, porque a contribuição de tantas vozes verdadeiramente expressa o que se pode chamar de 'sinfonia' da fé. A realização deste Catecismo reflete, assim, a natureza colegial do Episcopado e testemunha a catolicidade da Igreja.

 

III.          DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA

Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, o ensinamento da Sagrada Escritura, da Tradição viva na Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos Padres, dos Santos e das Santas da Igreja, para permitir um melhor conhecimento o mistério cristão e reavivar a fé do povo de Deus. Deve também levar em conta as elaborações da doutrina que, ao longo do tempo, o Espírito Santo inspirou à Igreja.

É também necessário que ajude a iluminar, com a luz da fé, as novas situações e os problemas que ainda não tinham surgido no passado.

O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a fé é sempre a mesma e simultaneamente é fonte de luzes sempre novas.

Para responder a esta dupla exigência, o 'Catecismo da Igreja Católica', por um lado, retoma a 'antiga' ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V, articulando o conteúdo em quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro plano; o agir cristão, exposto a partir dos mandamentos; e, por fim, a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo é frequentemente expresso de um modo 'novo', para responder às interrogações da nossa época.

As quatro partes estão interligadas entre si: o mistério cristão é o objeto da fé (Primeira Parte); é celebrado e comunicado nos atos litúrgicos (Segunda Parte); está presente para iluminar e orientar os filhos de Deus em suas ações (Terceira Parte); fundamenta nossa oração, cuja expressão privilegiada é o 'Pai-Nosso', e constitui o objeto de nossas súplicas, louvores e intercessões (Quarta Parte).

A Liturgia é ela própria oração. A confissão da fé encontra seu justo lugar na celebração do culto. A graça, fruto dos sacramentos, é a condição insubstituível do agir cristão, tal como a participação na liturgia da Igreja requer a fé. Se a fé não se desenvolve nas obras, essa está morta (cf. Tg 2,14-16) e não pode dar frutos de vida eterna.

Lendo o 'Catecismo da Igreja Católica', pode-se captar a maravilhosa unidade do mistério de Deus, do seu desígnio de salvação, bem como a centralidade de Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, enviado pelo Pai, feito homem no seio da Santíssima Virgem Maria por obra do Espírito Santo, para ser nosso Salvador. Morto e ressuscitado, ele está sempre presente na sua Igreja, particularmente nos sacramentos; ele é a fonte da fé, o modelo do agir cristão e o Mestre de nossa oração.

 

IV.          VALOR DOUTRINAL DO TEXTO

O 'Catecismo da Igreja Católica', que aprovei no passado dia 25 de junho e cuja publicação hoje ordeno em virtude da autoridade apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé. Que ele sirva para a renovação, à qual o Espírito Santo chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo à luz sem sombras do Reino!"

A aprovação e publicação do 'Catecismo da Igreja Católica' constituem um serviço que o Sucessor de Pedro quer prestar à Santa Igreja Católica e a todas as Igrejas particulares em paz e em comunhão com a Sé Apostólica de Roma: o serviço de sustentar e confirmar a fé de todos os discípulos do Senhor Jesus (cf. Lc 22,32), assim como de reforçar os laços de unidade na mesma fé apostólica.

Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiéis que acolham este Catecismo em espírito de comunhão, e que o usem assiduamente ao cumprirem sua missão de anunciar a fé e promover a vida evangélica. Este Catecismo é dado a eles como texto de referência seguro e autêntico para o ensino da doutrina católica, e especialmente para a elaboração dos catecismos locais. Também é oferecido a todos os fiéis que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas inexauríveis da salvação (cf. Jo 8,32). Ele visa apoiar os esforços ecumênicos, motivados pelo santo desejo da unidade de todos os cristãos, mostrando com exatidão o conteúdo e a harmoniosa coerência da fé católica. Por fim, o 'Catecismo da Igreja Católica' é oferecido a todo homem que nos pergunte a razão de nossa esperança (cf. 1Pd 3,15) e deseje conhecer aquilo em que a Igreja Católica crê.

Este Catecismo não se destina a substituir os Catecismos locais devidamente aprovados pelas autoridades eclesiásticas, os Bispos diocesanos e as Conferências Episcopais, especialmente se receberam a aprovação da Sé Apostólica. Destina-se a encorajar e auxiliar na redação de novos catecismos locais, que considerem as diversas situações e culturas, mantendo cuidadosamente a unidade da fé e a fidelidade à doutrina católica.

 

 V.          CONCLUSÃO

No final deste documento que apresenta o 'Catecismo da Igreja Católica', peço à Santíssima Virgem Maria, Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Igreja, que ampare com sua poderosa intercessão o empenho catequético da Igreja inteira em todos os níveis, nestes tempos em que ela é chamada a um novo esforço de evangelização. Que a luz da verdadeira fé liberte a humanidade da ignorância e da escravidão do pecado, para conduzi-la à única liberdade digna deste nome (cf. Jo 8,32): a vida em Jesus Cristo sob a guia do Espírito Santo, aqui na terra e no Reino dos Céus, na plenitude da bem-aventurança da visão de Deus face a face (cf. 1Cor 13,12; 2Cor 5,6-8)!

Dado no dia 11 de outubro de 1992, trigésimo

aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II,


décimo quarto ano do meu pontificado.
  

 

IOANNES PAULUS II

 

PRÓLOGO

“Pai, [...] é esta a vida eterna: que conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17, 3). “Deus, nosso Salvador [...], quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2, 3-4). “Não há debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (At 4, 12), senão o nome de JESUS.

 

                        I.          A vida do homem – conhecer e amar a Deus

 

1.   Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem-aventurada. Eis porque, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e a amá-lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade de sua família, a Igreja. Faz isto por meio do Filho, que enviou como Redentor e Salvador, quando os tempos se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no Espírito Santo, seus filhos adotivos e, portanto, os herdeiros de sua vida bem-aventurada.

 

2.   A fim de que este chamado ressoe pela terra inteira, Cristo enviou os Apóstolos que escolhera, dando-lhes o mandato de anunciar o Evangelho: “Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias até ao fim dos tempos” (Mt 28, 19-20). Fortalecidos com esta missão, os apóstolos “foram anunciar a Boa Nova por toda a parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 20).

 

3.   Os que, com a ajuda de Deus, acolheram o chamado de Cristo e lhe responderam livremente foram, por sua vez, impulsionados pelo amor de Cristo a anunciar, por toda as partes do mundo, a Boa Notícia. Este tesouro recebido dos Apóstolos foi guardado fielmente pelos por seus sucessores. Todos os fiéis de Cristo são chamados a transmiti-lo de geração em geração, anunciando a fé, a vivendo na partilha fraterna e celebrando na liturgia e na oração.

 

                     II.          Transmitir a fé – a catequese

 

4.   Bem cedo se passou a chamar de catequese o conjunto de esforços empreendidos na Igreja para fazer discípulos, para ajudar os homens a crerem que Jesus é o Filho de Deus, a fim de que, por meio da fé, tenham a vida em nome dele, para educá-los e instruí-los nessa vida, e assim construir o Corpo de Cristo.

 

5.   “A catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, a qual compreende especialmente o ensino da doutrina cristã, ministrado, em geral, de maneira orgânica e sistemática, com o fim de iniciá-los na plenitude da vida cristã”.

 

6.   Sem confundir-se com eles, a catequese articula-se em torno de determinado número de elementos da missão pastoral da Igreja, os quais têm um aspecto catequético e preparam a catequese ou dela derivam: primeiro anúncio do Evangelho ou pregação missionária para suscitar a fé; busca das razões de crer;  experiência de vida cristã; celebração dos sacramentos;  integração na comunidade eclesial; testemunho apostólico e missionário.

 

7.   “A catequese está intimamente ligada a toda a vida da Igreja. Não somente a extensão geográfica e o aumento numérico, mas também e mais ainda o crescimento interior da Igreja, sua correspondência ao desígnio de Deus  dependem da própria catequese”.

 

8.   Os períodos de renovação da Igreja são também tempos fortes de catequese. Eis por que, na grande época dos Padres da Igreja, vemos santos Bispos dedicarem uma parte importante de seu ministério à catequese. É a época de São Cirilo de Jerusalém e de São João Crisóstomo, de Santo Ambrósio e de Santo Agostinho, e de muitos outros Padres, cujas obras catequéticas permanecem como modelos.

 

9.   O ministério da catequese sempre colhe dos Concílios renovadas energias. O Concílio de Trento constitui, neste ponto, um exemplo a ser sublinhado: deu à catequese prioridade em suas constituições e em seus decretos; está ele na origem do Catecismo Romano, que também leva seu nome e constitui uma obra de primeira grandeza como resumo da doutrina cristã. Este concílio suscitou na Igreja uma organização notável da catequese e, graças a santos Bispos e teólogos, tais como São Pedro Canísio, São Carlos Borromeo, São Turíbio de Mogrovejo, São Roberto Belarmino, levou à publicação de numerosos catecismos.

 

10.                  Diante disso, não é de estranhar que, no dinamismo que seguiu o Concílio do Vaticano II (considerado pelo Papa Paulo VI como grande catecismo dos tempos modernos), a catequese da Igreja tenha novamente chamado a atenção. Dão testemunho deste fato o Diretório Geral da Catequese, de 1971, as sessões do Sínodo dos Bispos dedicadas à evangelização (1974) e à catequese (1977); e as exortações apostólicas correspondentes — Evangelii Nuntiandi (1975) e Catechesi Tradendae (1979). A sessão extraordinária do Sínodo dos Bispos de 1985 pediu: “Seja redigido um catecismo ou compêndio de toda a doutrina católica, tanto sobre à fé como sobre a moral”. O Santo Padre João Paulo II endossou este anseio expresso pelo Sínodo dos Bispos, reconhecendo que “este desejo responde plenamente a uma verdadeira necessidade da Igreja universal e das Igrejas particulares”. Ele empenhou todos os esforços em prol da realização desta aspiração dos Padres do Sínodo.

  

                 III.          O objetivo e os destinatários deste Catecismo

 

11.                  O presente Catecismo tem por objetivo apresentar uma exposição orgânica e sintética dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé como sobre a moral, à luz do Concílio do Vaticano II e do conjunto da Tradição da Igreja. Suas fontes principais são a Sagrada Escritura, os santos Padres, a Liturgia e o Magistério da Igreja. Destina-se ele a servir “como ponto de referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser elaborados nos diversos países”.

 

12.                  O presente Catecismo é destinado principalmente aos responsáveis pela catequese, em primeiro lugar aos Bispos, como mestres da fé e pastores da Igreja. É oferecido a eles como instrumento no cumprimento de seu ofício de ensinar o Povo de Deus. Por meio dos Bispos, ele se destina aos redatores de catecismos, aos presbíteros e aos catequistas. Será também útil para a leitura de todos os demais fiéis cristãos.

  

                  IV.          A Estrutura deste Catecismo

 

13.                  O projeto deste Catecismo inspira-se na grande tradição dos catecismos que articulam a catequese em torno de quatro "pilares": a profissão da fé batismal (o Símbolo), os sacramentos da fé, a vida da fé (Mandamentos) e a oração do crente (o "Pai Nosso").

 

PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

 

14.                  Aqueles que, pela fé e pelo Batismo, pertencem a Cristo, devem confessar sua fé batismal diante dos homens. Por isso, o Catecismo começa por expor em que consiste a Revelação, pela qual Deus se dirige e se doa ao homem, bem como a fé, pela qual o homem responde a Deus (seção I). O Símbolo da fé resume os dons que Deus, como Autor de todo bem, como Redentor, como Santificador, outorga ao homem e os articula em torno dos "três capítulos" de nosso Batismo – a fé em um só Deus: o Pai Todo-poderoso, o Criador; Jesus Cristo, seu Filho,  nosso Senhor e Salvador; o Espírito Santo, na Santa Igreja (seção II).

 

SEGUNDA PARTE: OS SACRAMENTOS DA FÉ

 

15.                  A segunda parte do Catecismo expõe como a salvação de Deus, realizada uma vez por todas por Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, torna-se presente nas ações sagradas da liturgia da Igreja (seção I), particularmente nos sete sacramentos (seção II).

 

TERCEIRA PARTE: A VIDA DA FÉ

 

16.                  A terceira parte do Catecismo apresenta o fim último do homem, criado à imagem de Deus – a bem-aventurança e os caminhos para chegar a ela: mediante um agir reto e livre, com a ajuda da fé e da graça de Deus (seção I); por meio de um agir que realiza o duplo mandamento da caridade, desdobrado nos Dez Mandamentos de Deus (seção II).

 

QUARTA PARTE: A ORAÇÃO NA VIDA DA FÉ

 

17.            A última parte do Catecismo trata do sentido e da importância da oração na vida dos crentes (seção I). Ela termina com um breve comentário sobre os sete pedidos da Oração do Senhor (seção II). Com efeito, nesses sete pedidos encontramos o conjunto dos bens que devemos esperar e que nosso Pai celeste quer nos conceder.

 

                     V.          Indicações práticas para o uso deste Catecismo

 

18.                  Este Catecismo foi pensado como uma exposição orgânica de toda a fé católica. É preciso o ler como uma unidade. Numerosas referências dentro do próprio texto, bem como o índice analítico no fim do volume, permitem ver a ligação de cada tema com o conjunto da fé.

 

19.                  Muitas vezes, os textos da Sagrada Escritura não são citados literalmente, mas são feitas apenas referências (mediante a indicação "cf."). Para a compreensão mais aprofundada de tais passagens, é preciso consultar os próprios textos. Essas referências bíblicas constituem um instrumento de trabalho para a catequese.

 

20.                  Quando, em certas passagens, usa-se, graficamente, corpo menor, isto indica que se trata de observações de tipo histórico, apologético ou de exposições doutrinais complementares.

 

21.                  As citações, em corpo menor, de fontes patrísticas, litúrgicas, magisteriais ou hagiográficas são destinadas a enriquecer a exposição doutrinal. Com frequência, esses textos foram escolhidos para uso diretamente catequético.

 

22.                  No fim de cada unidade temática, uma série de textos breves apresentam, de modo resumido, o essencial do ensinamento. Esses "resumos" têm por objetivo oferecer fórmulas breves e memorizáveis à catequese local.

 

                  VI.          As adaptações necessárias

 

23.                  Neste Catecismo, a ênfase é posta na exposição doutrinal. Que ele ajudar a aprofundar o conhecimento da fé. Por isso mesmo está orientado para o amadurecimento desta fé, para seu enraizamento na vida e sua irradiação no testemunho.

 

24.                  Por sua própria finalidade, este Catecismo não se propõe a realizar as adaptações da exposição e dos métodos catequéticos exigidas pelas diferenças de culturas, idades, maturidade espiritual, situações sociais e eclesiais daqueles a quem a catequese é dirigida. Tais indispensáveis adaptações cabem aos catecismos próprios e mais ainda aos que ministram instrução aos fiéis:

“Aquele que ensina deve “fazer-se tudo para todos” (1 Cor 9, 22), a fim de conquistar todos para Jesus Cristo […]. Particularmente, não imagine ele que lhe é confiado um único tipo de alma e que, consequentemente, lhe é permitido ensinar e formar de modo igual todos os fiéis à verdadeira piedade, com um só e mesmo método, sempre igual! Saiba ele que alguns são, em Jesus Cristo, como criancinhas recém-nascidas; outros, como adolescentes; ainda outros como estando na posse de todas as suas forças. É necessário considerar com diligência que uns têm necessidade de leite, e outros de alimento sólido […]. O apóstolo […] indicou tal dever, ou seja, aqueles que são chamados ao ministério da pregação devem, na transmissão dos ministérios da fé e das regras dos costumes, adaptar suas palavras ao espírito e à inteligência de seus ouvintes”.

 

ACIMA DE TUDO — A CARIDADE

 

25.                  Para concluir este prólogo, é oportuno lembrar este princípio pastoral enunciado pelo Catecismo Romano:

Toda a finalidade da doutrina e do ensinamento deve ser posta no amor que não acaba. Com efeito, pode-se facilmente expor aquilo em que é preciso crer, esperar ou fazer sempre com que apareça o Amor de Nosso Senhor, para que cada um compreenda que cada ato de virtude perfeitamente cristã não tem outra origem senão o Amor, nem outro fim senão o Amor.

 

PRIMEIRA PARTE

A PROFISSÃO DA FÉ 

 

Fragmento de um afresco encontrado das catacumbas de Priscila, Roma, início do século III. A mais antiga imagem da Santíssima virgem.

Essa imagem, entre as mais antigas da arte cristã, apresenta o que é central na fé cristã: o ministério da encarnação do Filho de Deus nascido da Virgem Maria. À esquerda, se vê uma figura de homem que aponta para uma estrela, situada acima da Virgem como o menino: um profeta, provavelmente Balaão a anunciar que “um astro procedente de Jacó se torna chefe” (Nm 24,17). É longa a espera da Antiga Aliança e o apelo da humanidade decaída a um salvador redentor (cf. §27, 528).

Esse anúncio vê-se realizado com o nascimento de Jesus, Filho de Deus feito homem, concebido por obra do Espírito Santo, nascido da Virgem Maria (cf. §27, 53, 422, 488). Maria traz ao mundo e o dá aos homens. Assim ela é a figura mais pura da Igreja (cf. §967)


PRIMEIRA SEÇÃO 

“EU CREIO” – “NÓS CREMOS”

 

26.                  Quando professamos nossa fé, começamos dizendo: “Eu creio” ou “Nós cremos”. Por isso, antes de expor a fé da Igreja, tal como é confessada no Credo, celebrada na Liturgia, vivida na prática dos Mandamentos e na oração, nos perguntamos: o que significa “crer”? A fé é a resposta do homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo, ao mesmo tempo, uma luz superabundante ao homem em busca do sentido último de sua vida. Por isso vamos considerar primeiro esta busca do homem (capítulo I); em seguida, a revelação divina pela qual Deus se apresenta ao homem (capítulo II); logo após, a resposta da fé (capítulo III).

 

CAPÍTULO I

O HOMEM É “CAPAZ” DE DEUS

 

                        I.          O desejo de Deus

 

27.                  O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, visto que o homem é criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para si e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar:

“O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana, pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser.  O homem só viverá plenamente segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador”.

 

28.                  Em sua história, e até os dias de hoje, os homens tem expressado sua busca por Deus de múltiplas maneiras, por meio de suas crenças e de comportamentos religiosos (orações, sacrifícios, cultos, meditações, etc.). Apesar das ambiguidades que podem comportar, estas formas de expressão são tão universais que o homem pode ser chamado de um ser religioso:

“De um só homem ele [Deus] fez toda a espécie humana, para habitar sobre toda a face da terra, tendo estabelecido o ritmo dos tempos e os limites de sua habitação. Assim fez, para que buscassem a Deus e, talvez às apalpadelas, o encontrassem, a ele que na realidade não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 26-28).

 

29.                  No entanto, esta “união íntima e vital com Deus” pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta contra o mal no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosa, as preocupações com as coisas do mundo e com as riquezas; o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis à religião; a atitude do homem pecador que, por medo, esconde-se na presença de Deus e foge diante de seu chamado.

 

30.                  “Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!” (Sl 105, 3). Se o homem pode esquecer ou rejeitar Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo a procura-lo, para que viva e encontre a felicidade. Esta busca, porém, exige do homem todo o esforço de sua inteligência, a retidão de sua vontade, “um coração reto”, e também o testemunho de outros que o ensinam a procurar Deus:

“Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor; grande é o vosso poder, a vossa sabedoria não tem medida. O homem, pequena parcela de vossa criação, pretende louvar-vos, precisamente o homem que, revestido de sua condição mortal, traz em si o testemunho de seu pecado, e de que resistes aos soberbos. Apesar de tudo, o homem, pequena parcela de vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o instigais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor, porque nos fizeste para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós.”

 

                     II.          Os caminhos de acesso ao conhecimento de Deus

 

31.                  Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, c homem que procura Deus descobre certos caminhos para chegar ao conhecimento de Deus. Eles são também chamados de “provas da existência de Deus”, não no sentido das provas que as ciências naturais buscam, mas no sentido de “argumentos convergentes e convincentes” que permitem chegar a verdadeiras certezas.

Estas “vias” para chegar a Deus têm como ponto de partida a criação: o mundo material e a pessoa humana.

 

32.                  O mundo: a partir do movimento e da mudança, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode-se conhecer a Deus como a origem e o fim do universo.

São Paulo afirma a respeito dos pagãos: "o que de Deus se pode conhecer é a eles manifesto, já que Deus mesmo lhes deu esse conhecimento. De fato, as perfeições invisíveis de Deus – não somente seu poder eterno, mas também a sua eterna divindade – são percebidas pelo intelecto, através de suas obras, desde a criação do mundo" (Rm 1, 19-20).

Diz Santo Agostinho: "Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a beleza do céu, [...] interroga todas estas realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor (confessio). Essas belezas sujeitas à mudanças, quem as faz senão o Belo (Pulcher), não está sujeito à mudança?".

 

33.                  O homem: com sua abertura à verdade e à beleza, com seu senso de bem moral, com sua liberdade e a voz de sua consciência, com sua aspiração ao infinito e à felicidade, o homem se interroga sobre a existência de Deus. Mediante tudo isso percebe sinais de sua alma espiritual. Como "semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à só matéria", sua alma não pode ter origem senão em Deus.

 

34.                  O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos nem seu princípio primeiro nem seu fim último, mas que participam do Ser em si, que é sem origem e sem fim. Assim, por estes diversos caminhos, o homem pode chegar ao conhecimento da existência de uma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, "a que todos chamam Deus".

 

35.                  As faculdades do homem o tornam capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal. Porém, para que o homem possa entrar em sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem e dar-lhe a graça de poder acolher esta revelação na fé. As provas da existência de Deus podem, todavia, dispor à fé e ajudar a ver que a fé não se opõe à razão humana.

 

                 III.          O conhecimento de Deus segundo a Igreja

 

36.                  “A santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido, com certeza, pela luz natural da razão humana, a partir das coisas criadas”. Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a revelação de Deus. O homem tem esta capacidade por ser criado “à imagem de Deus” (Gn 1, 27).

 

37.                  Todavia, nas condições históricas em que se encontra, o homem enfrenta muitas dificuldades para conhecer a Deus apenas com a luz de sua razão:

“Embora a razão humana, falando simplesmente, possa realmente com suas forças e luz natural chegar ao conhecimento verdadeiro e certo de Deus único e pessoal, que sustém e governa o mundo com sua providência, bem como ao conhecimento da lei natural, impressa pelo Criador em nossas almas, não são poucos, todavia, os obstáculos que impedem a razão fazer o uso eficaz dessa sua capacidade natural. De fato, as verdades que se referem a Deus e às relações entre os homens e Deus são verdades que transcendem por completo a ordem das coisas sensíveis e, quando entram na prática da vida e a enformam, exigem sacrifícios e abnegação própria. Ora, o entendimento humano encontra dificuldades na aquisição de tais verdades, quer pela ação dos sentidos e da imaginação, quer pelas más inclinações nascidas do pecado original. Isso faz com que os homens, em semelhantes questões, facilmente se persuadam de ser falso e duvidoso o que não querem que seja verdadeiro.

 

38.                  Por isso, o homem tem necessidade de ser iluminado pela revelação de Deus, não somente sobre o que ultrapassa seu entendimento, mas também sobre “as verdades religiosas e morais que, por si mesmas, não são inacessíveis à razão, a fim de que estas, no estado atual do gênero humano, possam ser conhecidas por todos sem dificuldade, com firme certeza e sem confusão de erro”. 


                  IV.          Como falar de Deus?

 

39.                  Ao defender a capacidade da razão humana para conhecer Deus, a Igreja exprime sua confiança na possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos os homens. Esta convicção está na base de seu diálogo com as outras religiões, com a filosofia e com as ciências, como também com os não crentes e os ateus.

 

40.                  Uma vez que nosso conhecimento de Deus é limitado, também limitada é nossa linguagem sobre Deus. Só podemos falar de Deus a partir das criaturas e segundo nosso modo humano, limitado de conhecer e de pensar.

 

41.                  As criaturas, todas elas, trazem em si certa semelhança com Deus, muito particularmente o homem criado à imagem e à semelhança de Deus. Por isso as múltiplas perfeições das criaturas (sua verdade, sua bondade, sua beleza) refletem a perfeição infinita de Deus. Em razão disso, podemos falar de Deus a partir das perfeições de suas criaturas, “partindo da grandeza e beleza das criaturas, pode-se chegar a ver, por analogia, o seu Criador” (Sb 13, 5).

 

42.        Deus transcende toda a criatura. Por isso, é preciso incessantemente purificar nossa linguagem daquilo que possui de limitado, de proveniente da pura imaginação, de imperfeito, para não confundirmos o Deus “inefável, incompreensível, invisível, inatingível” com nossas representações humanas. Nossas palavras humanas permanecem sempre aquém do mistério de Deus.

 

43.                  Assim falando de Deus, nossa linguagem se expressa, sem dúvida, de maneira humana, mas ela atinge realmente o próprio Deus, ainda que sem poder exprimi-lo sua infinita simplicidade. Com efeito, é preciso lembrar que “entre o Criador e a criatura, não se pode notar uma semelhança, sem que se deva notar entre eles uma ainda maior dessemelhança”, e que “não podemos apreender de Deus o que ele é, mas apenas o que ele não é e de que maneira os outros seres situam-se em relação a ele”.

 

Resumindo:

 

44.                  O homem é, por natureza e por vocação, um ser religioso. Porque provém de Deus e para Ele caminha, o homem só vive uma vida plenamente humana, se vive livremente vive sua relação com Deus.

 

45.                  O homem é feito para viver em comunhão com Deus, no qual encontra sua felicidade: “Quando eu estiver inteiramente em Vós, nunca mais haverá dor e provação; repleta de Vós por inteiro, minha vida será verdadeira”.

 

46.                  Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz de sua consciência, o homem pode atingir a certeza da existência de Deus, causa e fim de tudo.

 

47.                  A Igreja ensina que o Deus único e verdadeiro, nosso Criador e Senhor, pode ser conhecido, com certeza, por meio de suas obras, graças à luz natural da razão humana.

 

48.                  Podemos realmente falar de Deus, partindo das múltiplas perfeições das criaturas, semelhanças do Deus infinitamente perfeito, ainda que nossa linguagem limitada não esgote seu mistério.

 

49.                  “Sem o Criador, [...]a criatura se esvai”. Eis por que os crentes sabem que são impelidos pelo amor de Cristo a levar a luz do Deus vivo àqueles que o desconhecem ou o recusam. 

  

CAPÍTULO II

DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

 

50.                  Mediante a razão natural, o homem pode, com certeza, conhecer a Deus a partir de suas obras. Existe, porém, outra ordem de conhecimento que o homem de modo algum pode atingir por suas próprias forças: a da revelação divina. Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem. Faz isto revelando seu mistério, seu projeto benevolente, que, desde toda a eternidade, concebeu em Cristo, em favor de todos os homens. Revela plenamente seu projeto, enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o Espírito Santo.

 

ARTIGO 1

A REVELAÇÃO DE DEUS

 

                            I.          Deus revela seu “projeto benevolente”

 

51.                  "Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito carne, no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina".

 

52.                  Deus, que "habita numa luz inacessível" (1 Tm 6, 16), quer comunicar sua própria vida divina aos homens, criados livremente por ele, para fazer deles, em seu Filho único, filhos adotivos. Ao revelar-se, Deus quer tornar os homens capazes de responder-lhe, de conhecê-lo e de amá-lo bem mais do que seriam capazes por si mesmos.

 

53.                  O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras, intimamente ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este projeto comporta uma "pedagogia divina" peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, o prepara, por etapas, para acolher a revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que culmina na Pessoa e na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.

Santo Irineu de Lyon fala, repetida vezes desta pedagogia divina sobre a imagem da familiaridade mútua entre Deus e o homem: "O Verbo de Deus […] habitou no homem e se fez Filho do Homem para acostumar o homem a apreender a Deus e acostumar Deus a habitar no homem, segundo o consentimento do Pai".

 

                        II.          As etapas da Revelação

 

DESDE A ORIGEM, DEUS SE DÁ A CONHECER

 

54.                  “Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (cf. Jo 1,3), oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação (cf. Rm 1,1-20) e, além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação (cf. Gn 3,15), e cuidou continuamente do gênero humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação (cf. Rm 2,6-7). No devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai de um grande povo (cf. Gn 12,2), povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido; assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho”. Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo, revestindo-os de uma graça e de uma justiça resplandecentes.

 

55.                  Esta revelação não foi interrompida pelo pecado dos nossos pais. Deus, com efeito, "após a queda deles [...], com a promessa da redenção, os consolou com a esperança da salvação e velou permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação".

"Quando pela desobediência perderam a vossa amizade, não os abandonastes ao poder da morte [...] Oferecestes, muitas vezes, aliança aos homens e às mulheres".

 

A ALIANÇA COM NOÉ

 

56.                  Desfeita a unidade do gênero humano pelo pecado, Deus procura, antes de tudo, salvar a humanidade, intervindo em cada uma das suas partes. A aliança com Noé, depois do dilúvio, exprime o princípio da economia divina para com as “nações”, isto é, para com os homens agrupados “segundo seu país, língua, família e nação” (Gn 10, 5).

 

57.                  Esta ordem cósmica, social e religiosa da pluralidade das nações, destina-se a limitar o orgulho de uma humanidade decaída que, unânime em sua perversidade, gostaria de construir, por si mesma, sua unidade à maneira de Babel. Contudo, devido ao pecado, o politeísmo, assim como a idolatria da nação e de seu chefe, constitui uma contínua ameaça de perversão pagã para essa economia provisória.

 

58.                  A aliança com Noé permanece em vigor durante todo o tempo das nações, até à proclamação universal do Evangelho. A Bíblia venera algumas grandes figuras das “nações”, tais como “Abel, o justo”, o rei-sacerdote Melquisedeque, figura de Cristo, ou os justos “Noé, Daniel e Jó”. Assim, a Escritura exprime o alto grau elevado de santidade que podem atingir os que vivem segundo a Aliança de Noé, na expectativa de que Cristo congregue na unidade “todos os filhos de Deus dispersos” (Jo 11, 52).  

DEUS ELEGE ABRAÃO

 

59.                  Para congregar a humanidade dispersa, Deus elegeu Abrão, o chamando – “Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai” (Gn 12, 1) – para fazer dele “Abraão”, isto é, “o pai de uma multidão de nações” (Gn 17, 5): “Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra” (Gn 12, 3).

 

60.                  O povo originado de Abraão será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o povo escolhido, chamado a preparar, um dia, a unidade da Igreja de todos os filhos de Deus. Este povo será a raiz sobre a qual serão enxertados os pagãos tornados crentes.

 

61.                  Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento, foram e serão sempre venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja.

 

DEUS FORMA SEU POVO ISRAEL

 

62.                  Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu povo, o salvando da escravidão do Egito. Fez com que ele a aliança do Sinai e deu-lhe, por intermédio de Moisés, sua Lei, para que o reconhecesse e o servisse como único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e juiz justo, e para que esperasse o Salvador prometido.

 

63.                  Israel é o Povo sacerdotal de Deus, aquele sobre o qual “é invocado o Nome do Senhor” (Dt 28, 10). É o povo daqueles “aos quais Deus falou em primeiro lugar”, o povo dos “irmãos mais velhos” da fé de Abraão.

 

64.                  Por meio dos profetas, Deus forma o seu povo na esperança da salvação, na expectativa de uma Aliança nova e eterna, destinada a todos os homens, e que será impressa nos corações. Os profetas anunciam uma redenção radical do Povo de Deus, a purificação de todas as suas infidelidades, uma salvação que incluirá todas as nações. Serão sobretudo os pobres e os humildes do Senhor os portadores desta esperança. As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel, Míriam, Débora, Ana, Judite e Ester mantiveram viva a esperança da salvação de Israel. Entre todas elas, a figura mais luminosa é Maria.

 

                     III.          Jesus Cristo – “Mediador e plenitude de toda a Revelação”

 

DEUS TUDO DISSE NO SEU VERBO

 

65.                  "Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho” (Hb 1, 1-2). Cristo, o Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não há outra palavra senão esta. São João da Cruz, a exemplo de tantos outros, expressa isto de maneira brilhante, ao comentar Hb 1, 1-2:

“Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que é a sua Palavra única (e outra não há), tudo nos falou de uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tema falar.  […] De fato, aquilo que outrora falou parcialmente aos profetas, agora nos disse inteiramente em seu Filho, nos dando o todo que é seu próprio Filho. Portanto, se alguém ainda quisesse interrogar o Senhor e pedir-lhe visões ou revelações, não só cometeria insensatez como ofenderia a Deus, por não fixar seu olhar unicamente em Cristo e buscar fora dele coisas diferentes ou novidades”.


NÃO HAVERÁ OUTRA REVELAÇÃO

 

66.                  "A economia cristã, portanto, como Aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo. Cabe à fé cristã captar gradualmente, ao longo dos séculos, todo o seu alcance.

 

67.                  No decurso dos séculos, houve revelações denominadas “privadas”, algumas delas reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da fé. A função delas não é “melhorar” nem “completar” a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela, com mais plenitude, em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja.

A fé cristã não pode aceitar “revelações” que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação da qual Cristo é a plenitude. Este é o caso de certas religiões não cristãs e também de certas seitas recentes que se fundamentam em tais “revelações”.

 

Resumindo:

 

68.                  Por amor, Deus revelou-se e doou-se ao homem. Assim lhe oferece uma riquíssima e definitiva resposta às questões que o homem se faz acerca do sentido e do objetivo de sua vida.

 

69.                  Deus revelou-se ao homem, comunicando-lhe gradualmente seu próprio Mistério por meio de ações e de palavras.

 

70.                  Para além do testemunho que Deus dá de si mesmo nas coisas criadas, ele manifestou-se pessoalmente aos nossos primeiros pais. Falou-lhes e, depois da queda, prometeu-lhes a salvação e ofereceu-lhes a sua aliança.

 

71.                  Deus fez com Noé uma aliança eterna entre Ele e todos os seres vivos. Esta há de durar enquanto durar o mundo.

 

72.               Deus escolheu Abraão e fez uma aliança com ele e sua descendência. Daí formou seu povo, ao qual revelou sua Lei por intermédio de Moisés. Pelos profetas preparou este povo a acolher a salvação destinada à humanidade inteira.

 

73.                  Deus revelou-se plenamente enviando seu próprio Filho, no qual estabeleceu sua Aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de modo que, depois dele, não haverá outra revelação.

 

ARTIGO 2

A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA

 

74.                  Deus "quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2, 4), isto é, de Jesus Cristo. É preciso, pois, que Cristo seja anunciado a todos os povos e a todos os homens e que, desta forma, a Revelação chegue até aos confins do mundo:

“Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para a salvação de todos os povos”.

 

                        I.          A tradição apostólica

 

75.                  "Cristo Senhor, no qual se cumpre toda a Revelação do sumo Deus, ordenou aos Apóstolos, que anunciassem a todos o Evangelho, o qual, antes prometido pelos profetas, ele próprio cumpriu e promulgou por sua palavra, como fonte de toda verdade salvífica e de toda regra moral."

 

A PREGAÇÃO APOSTÓLICA …

 

76.                  A transmissão do Evangelho, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras:

oralmente – “pelos Apóstolos que, na pregação oral, por exemplos e ações, transmitiram aquelas coisas que ou receberam das palavras, da convivência e das obras de Cristo ou aprenderam das sugestões do Espírito Santo”;

por escrito – “como também por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação”.

 

… CONTINUADA NA SUCESSÃO APOSTÓLICA

 

77.                  “Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, a eles transmitindo seu próprio encargo de Magistério”. Com efeito, “a pregação apostólica, expressa de modo especial nos livros inspirados, deve ser conservada por sucessão continua até à consumação dos tempos”.

 

78.                  Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo, é chamada de Tradição, porquanto distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Por meio da Tradição, “a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo em que crê”. “O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante desta Tradição, cujas riquezas se difundem na prática e na vida da Igreja crente e orante”.

 

79.                  Assim, a comunicação que o Pai fez de si mesmo por seu Verbo no Espírito Santo permanece presente e atuante na Igreja: “O Deus que outrora falou mantém permanente diálogo com a esposa de seu dileto Filho, e o Espírito Santo, por meio do qual a voz viva do Evangelho ressoa na Igreja e através dela o mundo, leva os crentes à verdade toda e faz habitar neles abundantemente a palavra de Cristo”.

 

                     II.          A relação entre a tradição e a Sagrada Escritura

 

UMA FONTE COMUM…

 

80.                  "A Tradição e a Sagrada Escritura estão entre si estreitamente unidas e em comunicação, pois, provindo ambas da mesma fonte divina, formam, de certo modo, um só todo e tendem para o mesmo fim". Tanto uma como a outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu estar com os seus, 'todos os dias, até o fim dos tempos' (Mt 28, 20).

 

… DUAS MODALIDADES DISTINTAS DE TRANSMISSÃO

 

81.                  "A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus, por ser redigida sob a moção do Espírito divino”.

Quando à Sagrada Tradição, ela “transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos para que, sob a luz do Espírito de verdade, eles, por sua pregação, fielmente a conservem, exponham e difundam.”

 

82.                  Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, 'não deriva sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência'.

 

TRADIÇÃO APOSTÓLICA E TRADIÇÕES ECLESIAIS

 

83.                  A Tradição da qual aqui falamos é a que vem dos Apóstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Espírito Santo. Com efeito, a primeira geração de cristãos não dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva.

Dela é preciso distinguir as 'tradições' teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas, ao longo do tempo, nas Igrejas locais. Constituem elas formas particulares sob as quais a grande Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diferentes épocas. À luz da grande Tradição, elas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do Magistério da Igreja."

 

                 III.          A interpretação do depósito da fé

 

O DEPÓSITO DA FÉ CONFIADA À TOTALIDADE DA IGREJA

 

84.                  “O patrimônio sagrado” da fé ("depositum fidei"), contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos Apóstolos à totalidade da Igreja. "Apegando-se firmemente a ele, o povo santo todo, unido a seus Pastores, persevere continuamente na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fração do pão e na oração, de modo que, na conservação, no exercício e na profissão da fé transmitida, se crie singular unidade de espírito entre os Bispos e os fiéis".

 

O MAGISTÉRIO DA IGREJA

 

85.                  “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo, isto é, foi confiada aos Bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma."

 

86.                  "Todavia, tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que enquanto, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, piedosamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe e, deste único depósito de fé, obtém tudo o que nos propõe para ser acreditado como divinamente revelado."

 

87.                  Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo a seus Apóstolos –  “Quem vos escuta, a mim escuta” (Lc 10, 16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que os seus Pastores lhes dão sob diferentes formas.

 

OS DOGMAS DA FÉ

 

88.                  O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristão à adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na revelação divina ou verdades que com estas têm necessária conexão.

 

89.                  Há uma conexão orgânica entre a nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho da nossa fé que o iluminam e tornam seguro. Na verdade, se a nossa vida for reta, a nossa inteligência e o nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé.

 

90.                  Os laços mútuos e a coerência dos dogmas podem ser encontrados no conjunto da revelação do Mistério de Cristo. Existe uma ordem ou  'hierarquia' das verdades da doutrina católica, já que seu nexo com o fundamento da fé cristã é diferente".

 

SENSO SOBRENATURAL DA FÉ

 

91.                  Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada. Receberam a unção do Espírito Santo, que os instrui e os conduz à verdade em sua totalidade.

 

92.                  "O conjunto dos fiéis [...] não pode enganar-se no ato de fé. Ele manifesta esta sua peculiar propriedade mediante o senso sobrenatural da fé de todo o povo, quando, 'desde os Bispos até o último dos fiéis leigos', apresenta consenso universal sobre questões de fé e de costumes".

 

93.                  "Por este senso da fé, suscitado e sustentado pelo Espírito da verdade, o povo de Deus, sob a direção do sagrado Magistério [...] adere indefectivelmente à fé ‘uma vez para sempre transmitida aos santos’ e, com reto juízo, a penetra mais profundamente e mais plenamente a aplica em sua vida".

 

O CRESCIMENTO NA COMPREENSÃO DA FÉ

 

94.                  Graças à assistência do Espírito Santo, a compreensão tanto das realidades como das palavras do depósito da fé pode crescer na vida da Igreja.

– "Pela contemplação e pelo estudo dos que creem, os quais as meditam em seu coração", é em especial "a pesquisa teológica que aprofunda o conhecimento da verdade revelada".

–  "Pela íntima compreensão que os fiéis desfrutam das coisas espirituais"; "Divina eloquia cum legente crescunt" – "as palavras divinas crescem junto com quem as lê".

– "Pela pregação daqueles que, com a sucessão episcopal, receberam o carisma seguro da verdade".

 

95.                  "Fica, portanto, claro que, segundo o sapientíssimo plano divino, a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e unidos que um não tem consistência sem os outros, e que, juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas".

 

Resumindo:

 

96.                  O que Cristo confiou aos Apóstolos, estes o transmitiram por sua pregação e por escrito, sob a inspiração do Espírito Santo, a todas as gerações, até a volta gloriosa de Cristo.

 

97.                  “A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da Palavra de Deus”, no qual, como em um espelho, a Igreja peregrina contempla a Deus, fonte de todas as suas riquezas.

 

98.                  “Em sua doutrina, vida e culto, a Igreja perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê”.

 

99.                  Graças a seu senso sobrenatural da fé, o Povo de Deus inteiro, não cessa de acolher o dom da revelação divina, de penetrá-lo mais profundamente e viver dele com mais plenitude.

 

100.             O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi confiado exclusivamente ao Magistério da Igreja, ao Papa e aos Bispos em comunhão com ele.


A Infância e Adolescência Missionária (IAM) é uma Obra Pontifícia fundada em 19 de maio de 1843, por Dom Carlos Forbin-Janson. Presentes nos cinco continentes, as crianças e adolescentes missionários cultivam o espírito missionário universal, recitando uma Ave Maria por dia e doando um dinheiro por mês.