Vivendo experiências diversas, missionários relatam a alegria da missão

 


Anunciar o Evangelho a toda a criatura. Este é o chamado missionário de todo o cristão. Mas há aqueles que receberam uma vocação específica de ir às nações para falar da fé. Em outubro, lembramos os missionários que doam suas vidas pelo Evangelho de Cristo dentro ou fora de seu país. Nesta matéria, vamos conhecer três experiências diferentes: um sacerdote missionário na África, uma religiosa que trabalha na Ilha de Marajó (PA) e outra que trabalha na maior cidade do Brasil.

Em terras longínquas
O missionário da Comunidade Canção Nova padre Ademir Costa está há dois anos no interior de Moçambique, na África. Atualmente, ele é o pároco da paróquia de Zobue, que faz parte da província de Tete, localizada a 1600 km de Maputo, capital do país. “Cada qual vive o seu ser missionário, para o qual Deus o chama. Para mim, aqui é um ambiente que realiza a minha alma, a minha vocação, como cristão e como padre. Eu toco na essência do meu ser sacerdotal aqui”, afirma padre Ademir.

Ele conta que a área em que realiza seu apostolado em Moçambique tem uma diversidade muito grande, com uma cultura muito peculiar. “Para eles, até o tempo passa de maneira diferente. Nós chegamos com nossa maneira, mais agitados, imediatistas, e aqui não adianta, eles vão seguir no ritmo deles. E assim, vamos nos deixando moldar por essa realidade”.

O sacerdote destaca que o povo local é muito religioso e muito feliz. “Estão sempre felizes. Nas Missas, transbordam alegria no canto, na dança, é algo que está na alma deles. Cantam com o coração; e quando eles cantam, eles nos comovem. Eles não cantam de maneira superficial, cantam com a alma. Isso é muito bonito.”


Durante o período que está em Moçambique, padre Ademir conta que já percorreu metade do país e que, embora seja um país pobre, não se vê mais aquela pobreza extrema, que era realidade na década de 80. Ele lembra que encontrou mais pobreza no próprio Brasil, na Ilha de Marajó, onde pessoas passavam fome.

“Há uma pobreza de um país que é muito pobre, está em desenvolvimento, mas é uma pobreza que é a vida deles, é o pão de cada dia. A área que eu vivo é uma área de plantação, rural, o que eles plantam, eles comem, um pouco eles vendem. Eles sobrevivem”, explica.

Entre os desafios desta missão, padre Ademir destaca o idioma, pois embora a língua oficial do país seja o português, é uma cultura bem tribal, então cada região tem o seu dialeto. “Essa língua, principalmente nos interiores, é mais falada do que a língua portuguesa. Quando eu vou para as aldeias, sempre vai um tradutor comigo. Ele me traduz e dá para evangelizar assim, porque o principal agente da missão não somos nós não, é o Espírito Santo”.

Outro desafio é o processo de inculturação. “Eles têm o jeito deles de pensar, eles vivem da maneira deles há milhares de anos. E entendemos que eles não têm que pensar como nós, isso é egoísmo. Eu que sou o estranho aqui, então tenho que me inculturar. Abrir minha cabeça para amar o povo da maneira como eles vivem”.

Um outro desafio ainda é exatamente o da evangelização, pois é uma região de primeira evangelização. “Há os católicos, cristãos, mas com uma fé ainda de primeira catequese, de anúncio do querigma em muitos lugares (…) Eles são muito abertos, pois são muito religiosos, e se apresentamos um Cristo vivo, de um encontro pessoal com Cristo, eles se abrem”.

Padre Ademir diz que é um “trabalho de formiguinha”, porque tudo lá é muito grande. Só a paróquia que ele é responsável abrange uma área de 115km (correspondente à distância de Cachoeira Paulista a São José dos Campos), tem 45 comunidades, mas centenas de povoados, e ele não conseguiu visitar todos ainda.

“Você se sente pequenininho, mas tudo é graça de Deus. Temos que fazer a nossa parte. E o Espírito Santo faz o mais. Deus que multiplica os pães. Eu apresento o que tenho para que o Senhor multiplique, para que a evangelização possa chegar a todos aqueles que Jesus quer”.

Padre Ademir afirma que, neste mês missionário, os fiéis são convidados a lembrar de tantos missionários que evangelizam nos “confins da terra”, no silêncio e na caridade, pregando com a vida. “Para mim, de janeiro a dezembro é mês missionário, porque o trabalho não para, mas este é um mês de reflexão e oração por nós que temos uma missão. Que Deus abençoe todos os missionários do mundo”.


Junto aos povos ribeirinhos
Irmã Sueli de Oliveira, missionária Agostiniana, está há dois anos na comunidade de Portel, na Ilha de Marajó, no Pará. Ela conta que o desejo de ser missionária nasceu ainda criança, quando sonhava em ir para a África. O sonho se tornou realidade, pois logo que entrou na Congregação das Irmãs Agostinianas Missionárias foi enviada para Moçambique para uma experiência apostólica. Agora, na etapa do juniorato, está em missão junto ao povo marajoara.

“O Bom Deus não se cansa de nos possibilitar experiências profundas e marcantes. Sinto-me marajoara de coração, vou conhecendo e entrando na cultura local com muito carinho e respeito, isso me possibilita uma maior abertura e liberdade para desenvolver a missão”, afirma.

Irmã Sueli explica que o povo da Ilha de Marajó é muito acolhedor e de profunda religiosidade. “Como religiosa jovem, essa experiência missionária me possibilita estar em contato com as necessidades do povo de Deus, anunciando, denunciando, sendo presença profética, levando a Palavra de Deus com entusiasmo e amor. Aqui, eu aprendi que minha missão como consagrada é ser presença humilde, alegre e acolhedora para esse povo tão amado”.

Entre os desafios de seu trabalho missionário, a religiosa destaca que a cidade de Portel possui cerca de 60 mil habitantes, e é um dos municípios com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país. “Temos um Centro Social, chamado CAME (Centro de Atendimento Madre Evangelina), que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social entre 6 a 15 anos (…) Para mim, uns dos maiores desafios nesta realidade é saber que nossas crianças são as maiores vítimas de violência sexual e exploração de trabalho”.

A missão na cidade acontece juntamente com os Freis Agostinianos Recoletos, que atendem a Paróquia Nossa Senhora da Luz, que possui 12 comunidades urbanas e 115 comunidades ribeirinhas. Outro desafio é em relação às grandes distâncias que precisam ser percorridas para chegar a estas comunidades. “Tem comunidades que chegamos em apenas 20 minutos de barco, outras que demoramos 24 horas para chegar. Os desafios pastorais são imensos, algumas comunidades recebem a visita do sacerdote apenas uma vez ao ano, por falta de sacerdotes e de missionários nessa região”.

Irmã Sueli afirma que, apesar das dificuldades, os povos ribeirinhos se mantêm firmes cultivando suas práticas de religiosidade popular e mantendo viva sua fé em Cristo. “Em muitas dessas comunidades não há a presença da Eucaristia, então buscam alimento na Palavra de Deus, na oração do santo terço e na devoção aos santos”. Ela explica que, atualmente, com a realidade da pandemia, a realidade do povo marajoara tornou-se mais difícil, por serem desprovidos de direitos essenciais, como saúde, alimentação, saneamento básico e renda. E conta que os missionários precisaram aprender um novo jeito para evangelizar.

“Usamos as redes sociais para transmitir as celebrações e orações diárias nesse tempo de pandemia. Ao longo do mês de outubro, realizamos algumas atividades para divulgar o mês missionário. Entre elas, rezamos diariamente o Terço missionário transmitido pela rádio local e por lives”.


Apesar dos desafios, Irmã Sueli expressa alegria por sua missão apostólica. “A minha maior alegria em ser missionária é poder revelar o rosto misericordioso de Deus para os meus irmãos e irmãs marajoaras, através do carisma agostiniano vivido desde uma atitude de interioridade, fraternidade e serviço à Igreja”. E se diz grata a Deus e à sua Congregação por lhe permitirem esse apostolado na Amazônia. “Aqui eu aprendi a educar o olhar sobre as realidades de dor, e a contemplar o belo, encantando-me com a exuberância da criação. Sou plenamente feliz e identificada com a vocação agostiniana, onde resgatar e promover vidas dão sentido à minha vida”.

A religiosa lembra que a Campanha Missionária deste mês de outubro convoca a todos para que continuem a vibrar no seguimento de Cristo, conscientes de que “a vida é missão” e que sejam testemunhas proféticas do Evangelho. E lança um convite: “Todos nós somos filhos de Deus, agraciados de muitos dons. Convido que possamos ser uma igreja em saída. Se você deseja conhecer a missão na Amazônia, estamos abertos para recebê-los e poder colaborar conosco”.


Evangelizar nas grandes cidades
Irmã Helena Rocha é religiosa da Congregação das Irmãs Mensageiras do Amor Divino há 18 anos, e trabalha há oito na cidade de São Paulo, auxiliando mulheres e suas respectivas famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Esta é a segunda comunidade de missão em que ela mora, antes disso trabalhava em Bom Jesus da Lapa (BA) e, em 2012, foi transferida para a capital paulista.

“Quando cheguei aqui, não me conformava; na verdade, continuo indignada, porque há tantas pessoas na rua, passando fome, frio, sem dignidade… e outras em edifícios luxuosos. Quanta desigualdade social, meu Deus! Às vezes, me sinto ‘impotente’. Tento fazer minha parte, mas o que é uma gota d’água no oceano? Mesmo assim, a luta é constante, pois tenho fé e esperança de um mundo melhor”.

A religiosa afirma que o maior desafio em uma metrópole é cativar as pessoas para participar da comunidade. Ela conta que, todos os anos, as irmãs fazem encontros da Campanha da Fraternidade, do mês da Bíblia, mês missionário, advento, Natal, em que convidam os vizinhos, mas só comparecem duas ou três pessoas.

No bairro onde mora, há muitos prédios e, com isso, é até difícil ter acesso às pessoas, porque precisa da intermediação de algum morador e seguir o regimento interno do edifício. “E como eu faço para cativar as pessoas? Pegando o contato e, através do WhatsApp, mando o convite dos eventos da Associação e da Igreja, aos poucos vamos conquistando tanto para o trabalho da APAM quanto da comunidade. Mas é muito difícil”, desabafa a religiosa.

Mesmo com os desafios, ela conta que perceber as mulheres que são atendidas na APAM sentirem-se mais valorizadas lhe traz muita alegria. Ela lembra de uma usuário do serviço que, quando começou o atendimento, sobrevivia apenas da venda de salgados, não tinha nem máquina de costura, e hoje tem seu próprio ateliê, e agora é voluntária na associação.


Com o atendimento dessas mulheres em situação de vulnerabilidade, o anúncio do Evangelho se traduz de maneira concreta em atitudes de acolhida e no testemunho de vida, explica Irmã Helena. Entre os princípios e valores da APAM, estão a escuta e acolhida humanizada, respeito às diversidades, reconhecer a capacidade do ser humano de encontrar, na sociedade, as condições para sua autonomia e a valorização das mulheres.

Irmã Helena destaca que onde as políticas públicas não chegam, ali chegam os missionários. Nos lugares mais difíceis, onde há vidas humanas que precisam de dignidade. “Para a vida missionária não deve ter fronteiras, precisa de muito Amor Divino, coragem e ousadia, colocar-se sempre no lugar do outro. Ser verdadeiras (os) discípulas (os) de Jesus, principalmente neste tempo. O mês de outubro vem reforçar a importância de pensar, refletir mais a missão na Igreja e assumir o nosso compromisso de cristãos batizados”.

A Infância e Adolescência Missionária (IAM) é uma Obra Pontifícia fundada em 19 de maio de 1843, por Dom Carlos Forbin-Janson. Presentes nos cinco continentes, as crianças e adolescentes missionários cultivam o espírito missionário universal, recitando uma Ave Maria por dia e doando um dinheiro por mês.

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