Milhares de doentes em toda a Eritreia, país da
África Oriental, foram privados de cuidados médicos vitais depois do governo
ter interditado três hospitais, dois centros de saúde e 16 clínicas, na última
semana. A medida foi uma resposta às críticas dos bispos dirigidas ao regime do
presidente Isaias Afewerki, no poder desde 1993. As informações chegaram por
meio de uma fonte da Igreja católica local, que informou à Fundação Pontifícia
ACN (Ajuda à Igreja que Sofre) sobre o ocorrido. De acordo com a fonte, as
pessoas correm risco de morte caso os serviços não sejam retomados rapidamente,
sendo que muitos pacientes expulsos tiveram de percorrer até 25 quilômetros
para acessar outra clínica.
O fechamento levou os quatro bispos da Eritreia a
condenarem a ação por meio de uma carta enviada ao ministro da Saúde da
Eritreia, Amna Nurhusein. A carta enfatiza que o programa de confisco, que
fechou todas as instalações do serviço de saúde da Igreja católica, alguns
deles com mais de 70 anos de atividade, é “profundamente injusta”. A carta
declara: “Privar a Igreja de cuidar dessas instituições é minar sua própria
existência e expor seus trabalhadores à perseguição religiosa. Declaramos que
não entregaremos nossas instituições e equipamentos de livre e espontânea vontade”,
confirmando o que uma outra fonte local disse: “A equipe de algumas das
clínicas se recusou a entregar as chaves para que os soldados invadissem as
mesmas”.
O contato da ACN acrescentou: “Nossa mensagem ao
governo é simples: deixe-nos em paz. É dever da Igreja cuidar dos doentes, dos
pobres e moribundos. Ninguém, nem mesmo o governo, pode dizer à Igreja para não
fazer o seu trabalho. Nossas instalações médicas estavam seguindo fielmente as
diretrizes do ministério da saúde e, na maioria das vezes, os supervisores do
ministério apreciavam muito o trabalho realizado”.
A fonte católica disse que o governo queria ser o
único provedor de assistência médica, mas que a maioria das pessoas preferia
institutos administrados pela Igreja, já que os serviços estatais geralmente
têm equipamentos precários e falta de pessoal, e muitos procuram asilo no
exterior. “Ao fornecer esses serviços, a Igreja não está competindo com o
governo, mas está simplesmente complementando e auxiliando o que o governo
faz”.
Não está claro se o regime pretende reabrir os
institutos mais tarde. O contato da ACN disse que os centros de saúde católicos
confiscados pelo governo há dois anos continuam fechados até hoje. Ele apelou à
comunidade internacional, incluindo o governo do Reino Unido, para pedir ao
governo do presidente Isaías Afewerki que procure o caminho da reconciliação.