Um
quarto da população, ou 52,168 milhões de brasileiros, estava abaixo da linha
de pobreza do Banco Mundial em 2016, ano mais agudo da recessão. Esse é o total
de brasileiros que vive com menos de 5,50 dólares (18,24 reais) por dia,
equivalente a uma renda mensal de 387,07 reais por pessoa em valores de 2016.
Os dados, da Síntese de Indicadores Sociais 2017, foram divulgados nesta
sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O
Brasil não tem uma linha oficial de pobreza; há diversas linhas que atendem a
vários objetivos. Chega-se a 4,2% da população segundo o recorte de pobreza
extrema do Bolsa Família (85 reais mensais), 6,5% no recorte de pobreza extrema
global do Banco Mundial (1,90 dólar por dia, ou 6,30 reais, equivalente a 134
reais mensais) e 12,1% com um quarto de salário mínimo per capita. Recortes de
pobreza mais altos incluem a população com até meio salário mínimo per capita
(29,9%) e a linha do Banco Mundial que leva em conta o nível de desenvolvimento
brasileiro (e da América Latina) de 5,5 dólares por dia.
Quando
considerada a Linha Internacional de Pobreza do banco multilateral, de 6,30
reais por pessoa, 13,350 milhões de brasileiros, ou 6,5% da população total,
vivem com menos desse valor por dia. Esse contingente é superior à população da
capital paulista (12,1 milhões, segundo o IBGE). Conforme o IBGE, a linha de
extrema pobreza do Banco Mundial equivale a uma renda mensal média de 133,72
reais por pessoa do domicílio.
Na
prática, é como se cada pessoa desse grupo vivesse, ao longo de um mês, com
valor insuficiente para pagar um tanque de 50 litros de gasolina pelo preço
médio do estado de São Paulo — 192,40 reais, conforme a pesquisa mais recente
da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ou com o
equivalente a um terço do preço da cesta básica do Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em São Paulo, de 423,23
reais.
A
linha de 5,50 dólares (18,24 reais) foi criada no mês passado pelo Banco Mundial
para países emergentes de renda média-alta, categoria a qual inclui o Brasil. A
Linha Internacional da Pobreza de 1,90 dólar (6,30 reais) continua sendo o
limite do organismo multilateral, que norteia o objetivo de acabar com a
extrema pobreza no mundo até 2030, mas o Banco Mundial criou ainda uma faixa
que considera 3,20 dólares (10,60 reais) por dia. Na Síntese de Indicadores
Sociais, além dos patamares do Banco Mundial, o IBGE usou como referência o
salário mínimo e os valores mínimos para adesão ao Bolsa Família.
“A
gente tem muitos recortes. O objetivo é ver a diferença no território. Quem
está mais exposto a esse baixo rendimento”, afirmou a coordenadora de População
e Indicadores Sociais do IBGE, Barbara Cobo Soares.
Regiões
Tanto
a pobreza quanto a extrema pobreza estão concentradas no Norte e no Nordeste.
Quando se usa a linha de 5,50 dólares (18,24 reais) por dia, 43,1% dos
habitantes do Norte e 43,5% dos moradores do Nordeste vivem com renda igual ou
inferior a essa, contra os 25,4% na média nacional.
Já
na linha dos extremamente pobres, com 1,90 dólar (6,30 reais) por dia, 11,2%
dos habitantes do Norte e 12,9% da população do Nordeste vivem nessas
condições. São 7,3 milhões de nordestinos vivendo com essa renda, ou seja, mais
da metade do total de extremamente pobres do País.
Além
da concentração regional, as condições sociais também influenciam na pobreza.
Conforme o estudo do IBGE, na população de zero a 14 anos, 42,4% vivem em
domicílios que possuem renda inferior aos 5,50 dólares (18,24 reais) por pessoa
por dia do Banco Mundial. Já entre os arranjos familiares formados por mulheres
de pele identificada como preta sem cônjuge e com filhos de até 14 anos, 64%
vivem com renda inferior aos 387,07 reais por pessoa por mês.
O
estudo divulgado nesta sexta-feira usa os dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), do próprio IBGE. Não há comparação com
outros anos, porque uma mudança no questionário da Pnad-C tornou os dados
incomparáveis, exigindo tratamento estatístico. No mês passado, o IBGE informou
que faria os cálculos da série histórica, até o primeiro semestre do próximo
ano.
Piores
condições
As
pessoas pobres no Brasil não vivem apenas com pouco dinheiro, mas as condições
de vida em suas casas também são piores do que a média, revela a Síntese de
Indicadores Sociais 2017.
Na
média nacional, 62,1% dos brasileiros vivem em domicílios que possuem acesso
simultâneo aos três serviços de saneamento básico (abastecimento de água por
rede geral, esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial e coleta direta
ou indireta de lixo). Entre os 52 milhões de brasileiros que vivem com menos de
5,50 dólares (18,24 reais) por dia, uma das linhas de pobreza do Banco Mundial,
só 40,4% vive em domicílios com esses três serviços.
Com
essa abordagem, o IBGE procurou tratar a pobreza de forma “multidimensional”.
“A pobreza é multidimensional, mas o dinheiro é uma unidade de medida. É mais
difícil medir acesso a serviços”, afirmou Leonardo Queiroz Athias, analista da
Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.
O
estudo também mediu quatro “inadequações” das moradias (ausência de banheiro ou
sanitário de uso exclusivo dos moradores; paredes externas do domicílio
construídas predominantemente com material não durável; adensamento excessivo,
ou seja, a presença de um número de moradores superior ao adequado no
domicílio; e ônus excessivo com aluguel, ou seja, quando o gasto com aluguel
iguala ou supera 30% do rendimento).
No
conjunto da população, 12% moram em domicílios com ao menos uma dessas
inadequações. Entre os que ganham abaixo de 5,50 dólares (18,24 reais) ao dia,
são 26,2%. O destaque é o “adensamento excessivo”: na média nacional, 5,7% da
população vive nessas condições, enquanto entre os mais pobres são 14,2%.
FONTE: Veja