Boa Vista (RR), 5 horas da manhã, em
frente a Polícia Federal (PF), uma fila extensa, são venezuelanos aguardando
para dar entrada a regulamentação dos documentos. Nas praças, debaixo das
árvores, muitas pessoas dormem ao relento. Próximo à rodoviária, debaixo de uma
pequena árvore, entre tantos imigrantes, um casal com duas crianças está
sentado, como que vigilante. Diante deles uma pequena mala e o sol que começava
a nascer.
Na estrada que liga à fronteira Venezuelana, com frequência
encontra-se imigrantes sob o sol de 40 graus, percorrendo o trajeto para chegar
a Boa Vista. No fim da tarde, o grupo que marcha rumo à capital de Roraima é
maior. Na fronteira, no posto da Polícia Federal o fluxo de pessoas é intenso.
Segundo a PF, 80% são venezuelanos chegando ao Brasil. No total o movimento
migratório gira em torno de 1200 pessoas por dia.Em Pacaraima (RR), o abrigo de
passagem que acolhe o povo indígena Warao foi preparado para receber 190
pessoas, mas hoje abriga 500. Dessas, 200 são crianças. A mãe de 15 anos,
pálida e muito magra, sem força no falar está deitada na rede com os gêmeos de
dois meses. Os pequenos aparentam recém-nascidos. O jovem pai Worao está no
abrigo há três meses. Ele imigrou com o filho de 8 anos. Com lágrimas nos olhos
conta que a esposa faleceu, os pais também, e por não ter comida em seu país
veio ao Brasil com o filho e uma irmã. “No Brasil a situação está bem melhor
para nós”, disse.
A alimentação chega ao abrigo duas
vezes por semana. A distribuição é feita por famílias. Eles guardam em pacotes
e sacolas próximo às redes onde dormem. O preparar da alimentação é improvisado
no pátio. Cada família faz um pequeno fogo, improvisa as panelas para o
cozimento. São centenas de fogos e as famílias ao redor esperam a comida. Eles
optam por uma alimentação diária, isso para que possam garantir uma refeição
por dia até chegar a próxima distribuição de alimentos.
Há muitos voluntários que procuram amenizar o sofrimento dos
imigrantes. Mas não têm dado conta. Padre Jesús López Fernández, de Pacaraima,
oferece cerca de 800 cafés da manhã, diariamente. Para muitas pessoas é a única
refeição do dia. Igreja Católica, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias e os Missionário da Fraternidade Federação Humanitária
Internacional têm somado na acolhida aos imigrantes.
Ação cristã e humanitária – A Comissão Episcopal Pastoral
Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realiza a partir de ontem (28) em
Pacaraima e Boa Vista a “Missão Fronteira Venezuela” e permanece até 4 de março
de 2018. O objetivo é conhecer in locu a
situação que envolve a imigração na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, em
especial verificar a ocorrência do tráfico humano e elaborar um documento de
análise e proposição acerca das contribuições que a Igreja pode oferecer, em
termos de incidência, assistência e denúncia.
A Comitiva passou o dia em Pacaraima. O bispo de Roraima, dom
Mario Antônio, afirma que a CEPEETH “traz muita esperança tanto para a diocese
de Santa Elena [cidade venezuelana] quanto para nós de Roraima no sentido de
promover e integrar esses nossos irmãos e irmãs. Essa visita é um momento de
unção com o óleo da alegria, da ternura e da confiança e do fortalecimento para
nós”, disse o bispo.
Para a colaboradora da CEPEETH, irmã Rosita Milesi, “a visita da
Comissão visa reunir informações e levar uma percepção mais clara que se passa
aqui, dos grandes desafios que há, os grandes problemas que os imigrantes
enfrentam. As explorações a que são submetidos e como depois apresentar e
debater a implementação de ações para fortalecer a ação da Igreja e a presença
da CNBB aqui apoiando tanto a Igreja local como outas iniciativas contribuem
para dar uma resposta de carinho de acolhida a esses migrantes, combatendo a
xenofobia, a discriminação e até as medidas governamentais que são restritivas
para que essas pessoas tenham uma acolhida minimamente digna.
Nossa visita quer sobretudo olhar o tema do trafico humano e
como conseguir informações mais precisa para dar visibilidade e essa
problemática”, conta a religiosa. “Os migrantes não são perigosos, mas estão em
perigo”, papa Francisco.
Texto
Osnilda Lima, fsp
Fotos Felipe Larozza