Francisco na Audiência Geral: a oração é o respiro da vida
“Tudo
no ser humano é “binário”: o nosso corpo é simétrico, temos dois braços, dois
olhos, duas mãos. Assim, também o trabalho e a oração são complementares. A
oração, que é o “respiro” de tudo, continua sendo o pano de fundo vital do
trabalho, até nos momentos em que não é explícita”, disse o Papa em sua
catequese.
«Rezem
sem cessar. Deem graças em todas as circunstâncias». Estes versículos da
Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses nortearam a penúltima catequese
do Papa Francisco sobre o tema da oração na Audiência Geral desta quarta-feira
(09/06), realizada no Pátio São Dâmaso.
Citando
o itinerário espiritual do Peregrino russo, que começa quando se depara com
esta frase do Apóstolo dos Gentios, Francisco sublinhou que as palavras de
Paulo “comovem aquele homem que se questiona como é possível rezar sem
interrupção, dado que a nossa vida é fragmentada em tantos momentos diferentes,
que nem sempre tornam possível a concentração”. Assim, ele “começa a sua busca,
que o levará a descobrir a oração do coração”.
A oração como pauta musical
Consiste
em repetir com fé: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim,
pecador!” É uma oração que, pouco a pouco, se adapta ao ritmo da respiração e
se estende ao longo do dia. Com efeito, a respiração nunca para, nem sequer
quando dormimos. A oração é o respiro da vida.
A
propósito dessa necessidade de oração contínua, ponto fulcral da existência
cristã, o monge Evágrio do Ponto afirma: «Não nos foi mandado que trabalhemos,
velemos e jejuemos constantemente, mas temos a lei de orar sem cessar». São
João Crisóstomo, pastor atento à vida concreta, pregava: «É possível, mesmo no
mercado ou durante um passeio solitário, fazer oração frequente e fervorosa;
sentados na vossa loja, a tratar de compras e vendas, até mesmo a cozinhar». “A
oração é uma espécie de pauta musical, onde colocamos a melodia da nossa vida.
Não está em contraste com o trabalho diário, não contradiz as muitas pequenas
obrigações e compromissos, mas é o lugar onde cada ação encontra o seu sentido,
o seu porquê e a sua paz”.
A
seguir, o Papa recordou “que no monaquismo cristão o trabalho foi sempre
realizado com grande honra, não só por dever moral de prover a si mesmo e aos
outros, mas também por uma espécie de equilíbrio interior: é perigoso para o
homem cultivar um interesse tão abstrato a ponto de perder o contato com a
realidade”.
“O
trabalho nos ajuda a manter-nos em contato com a realidade. As mãos juntas do
monge carregam os calos daqueles que empunham pás e enxadas.”
Quando,
no Evangelho de Lucas, Jesus diz a Marta que a única coisa realmente necessária
é ouvir Deus, não significa de modo algum que despreza os muitos serviços que
ela estava realizando com tanto empenho”, disse Francisco
Trabalho e a oração são complementares
Tudo
no ser humano é “binário”: o nosso corpo é simétrico, temos dois braços, dois
olhos, duas mãos. Assim, também o trabalho e a oração são complementares. A
oração, que é o “respiro” de tudo, continua sendo o pano de fundo vital do
trabalho, até nos momentos em que não é explícita. É desumano estar tão
absorvidos pelo trabalho a ponto de não encontrar tempo para a oração.
“Ao
mesmo tempo, uma oração que está alienada da vida não é saudável. A oração que
nos afasta da realidade do viver torna-se espiritualismo, ou pior, ritualismo”,
sublinhou o Papa, recordando “que Jesus, depois de ter mostrado a sua glória
aos discípulos no monte Tabor, não quis prolongar aquele momento de êxtase, mas
desceu com eles do monte e retomou o caminho diário”. Segundo Francisco,
“aquela experiência devia permanecer nos corações como luz e força da sua fé.
Também uma luz e força para os dias próximos, os dias da Paixão”. “Assim, os
tempos dedicados a estar com Deus reavivam a fé, que nos ajuda na realidade da
vida, e a fé, por sua vez, alimenta a oração, sem interrupção. Nesta
circularidade entre fé, vida e oração, o fogo do amor cristão que Deus espera
de cada um de nós mantém-se aceso”, concluiu o Papa.
Fonte:
Vatican News