O caminho que Jesus percorreu
de Jerusalém até o Calvário, desde o início, foi chamado de “Via Crucis”
(caminho da cruz), ou “Via Sacra” (caminho sagrado). Ao longo dos séculos,
tornou-se a peregrinação pela qual somos convidados a acompanhar os passos de Jesus
que, com seu sofrimento, deu a Vida ao mundo.
Celebrando a Via Sacra, não
podemos deixar de ver, na dor de Jesus, o Filho de Deus, as dores do mundo,
sobretudo, dos mais inocentes e pequeninos.
Naquela Sexta-Feira da Paixão,
todos estavam presentes, e, por meio d’Ele, o mundo foi reconciliado com Deus.
Oração inicial
Senhor,
concede-me a graça de compartilhar contigo o caminho da cruz, penetrar teus
pensamentos e sentimentos: o que pensavas, o que sentias enquanto carregavas a
cruz pela humanidade, por mim? Ajuda-me a compreender um pouco mais do que esta
via dolorosa significou para ti. Com a minha pequenez, eu me atrevo a caminhar
contigo nestas estações, deixando-me impressionar pela contemplação do teu
mistério, buscando teu olhar de dor, de agonia, de morte, de paz.
“Pilatos querendo satisfazer à multidão, soltou Barrabás,
mandou açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado”.
mandou açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado”.
(Mc 15,15)
Em alguns países também as crianças e os adolescentes podem ser
processados e condenados, não tem a possibilidade de defesa e esperam, sem
esperança, a pena.
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, quando Pilatos te condenou à morte, tu querias rebelar-te,
porque eras inocente; mas, depois, olhaste longe e enxergaste o rosto de muitas
crianças condenadas à morte por causa de guerras injustas, de doenças, da fome,
da miséria moral e material.
Aqueles rostos, Senhor, convenceram-te a aceitar, sem
justificação, a condenação, como uma criança que não sabe e não pode pedir
explicação por um sofrimento que não mereceu.
Perdoa-nos Senhor, por não
aprendermos a respeitar a vida humana e ainda aceitarmos condenar à morte tuas
criaturas, feitas à tua imagem e semelhança.
“Jesus carregou a cruz nas costas e saiu para
um lugar
chamado Calvário (em hebraico: Gólgota)”.
chamado Calvário (em hebraico: Gólgota)”.
(Jo 19,17)
250 milhões de crianças no
mundo trabalham como escravos: nas fábricas de tapetes, de fósforos, de
alimentos congelados, de brinquedos, nas minas de carvão, nas vidraçarias, nas
colheitas de ervas de chá, nas fazendas de cana-de-açúcar...
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, quando te apresentaram a
cruz, tua a abraçaste, porque carregar aquele peso te ajudava a amar e a ter
compaixão das crianças que, todo dia, carregam sobre os ombros pesados tijolos
e que nas minas são obrigadas a empurrar pesados carrinhos de carvão. Pensaste
nos cortadores de cana-de-açúcar debaixo do sol quente, sem um mínimo de
descanso; nos tecelões de tapetes, fechados em pequenos e úmidos quartos; nas
meninas que trabalham nas fábricas de brinquedos, de fósforos, de congelados;
nos pequenos colhedores de ervas de chá; nos pequenos guardiões de rebanhos;
nos 250 milhões de crianças trabalhadoras, vencidas pelo cansaço e pagas
miseravelmente.
Jesus, pedimos-te perdão porque nossa
sociedade impõe às crianças pesos maiores do que elas, deixando-as sozinhas a
carregar a cruz.
“Protege-me, Senhor, das mãos do ímpio, salva-me do
homem violento: eles planejam me fazer cair”.
homem violento: eles planejam me fazer cair”.
(Salmo 140,5)
Em todo o mundo existem mais de
600 mil meninos soldados. São treinados para guerra, atiram com ousadia, mas,
em seus corações, existe muito medo...
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, quando caíste debaixo da
cruz, não pensaste em si mesmo, mas nos teus e nossos irmãos pequeninos, que
caíram na rede dos soldados cruéis.
Ainda muito pequenos, são
treinados para guerra, obrigados a atirar, ferindo, sem remédio, seus corações.
A pequena metralhadora é a cruz dos meninos soldados: desmontam-na,
carregam-na e lustram-na. Parecem fortes, mas, no coração, têm muito medo. À
noite, como travesseiro, usam aquele instrumento de guerra, e os seus sonhos
são tingidos de sangue. Estes rapazinhos, como tu, sem o ter procurado, sobem
ao calvário sob o peso das armas e da violência.
Perdoa-nos, Senhor, por termos armado
as mãos inocentes das crianças, destruindo seus brinquedos e sonhos de
infância.
“Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua mãe: ‘Este menino
será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um
sinal de contradição – e a ti uma espada transpassará tua
alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos
corações”.
(Lc 2,34-35)
Calcula-se que nos países
pobres, por mês, morrem, na hora do parto, mais de dez mil mães por falta de
medicamentos, de higiene e de alimentação adequados.
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, quando a tua Mãe te
encontrou no caminho do Calvário, ela desejou gritar ao mundo a sua dor. No
entanto, chorou em silêncio junto às mães das crianças deficientes, mutiladas,
encarceradas, desnutridas, exploradas e ofendidas. Uniu a sua dor à dor das
mães que perderam os filhos nas drogas, na violência, nos acidentes
rodoviários. Pensou nas mães do Iraque, do Afeganistão, do Sudão, de Angola, da
Palestina e de Israel que vêem seus filhos massacrados na guerra. Abraçou seu
Filho, e, nele, desejou abraçar a dor de todas as mães.
Senhor, porque pensamos demais em nós
mesmos e em nossas pequenas dores e não sabemos confortar as mães que sofrem.
“Os soldados obrigaram alguém que lá passava voltando do
campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo, a carregar a cruz.”
(Mc 15,21)
Em mais de 130 países as
crianças da Infância e Adolescência Missionária ajudam as crianças de todo o
mundo com oração, o sacrifício e gestos de solidariedade.
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, quando os soldados te
viram desfalecido, quiseram ajudar-te por meio de um homem que se encontrava
ali por acaso. Chamava-se Simão de Cirene, que vinha da roça, depois de uma
manhã de trabalho. Simão viu o teu cansaço e colocou o seu ombro junto do teu,
para aliviar-te o peso da cruz.
Tu aceitaste de boa vontade,
porque naquele homem cheio de compaixão, viste as pessoas de boa vontade que na
vida esquecem suas fadigas para ajudar os outros. Tu pensaste nas mães, nos
pais, nos sacerdotes, nos missionários, nas irmãs religiosas, em tantos
voluntários que põem a própria vida a serviço dos outros, e, no teu coração,
Senhor, os abençoaste.
Jesus perdoa a nossa preguiça e o nosso
egoísmo, e torna-nos disponíveis a carregar os pesos dos nossos irmãos.
“Seguia-o uma grande multidão do povo, bem como de mulheres
que batiam no peito e choravam por ele”.
que batiam no peito e choravam por ele”.
(Lc 23,27)
São muitos os missionários no
mundo: sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos. Anunciando o Evangelho,
ajudam os irmãos, despertam o rosto de Deus que dorme no coração do ser humano.
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Senhor, uma mulher que não te
conhecia teve piedade da tua dor e, por isso, desafiou a ferocidade dos
soldados e foi enxugar o teu rosto banhado de sangue e suor. Tu desejaste
recompensar o seu gesto e, por isso, deixaste no seu lenço os traços do teu
rosto.
Senhor, no coração de cada
pessoa está enfraquecida a luz deste rosto. Os missionários procuram
reaviva-la, anunciando o teu Evangelho; mas, depois de dois mil anos, quase
quatro bilhões de pessoas não te conhecem, não sabem que tu vieste para nos
salvar e que cada criatura humana pode chamar a Deus com o nome de Pai.
Jesus, desperta o teu rosto adormecido
no coração de cada pessoa e suscita vocações missionárias que anunciem ao mundo
a tua salvação.
“...E repartiram as suas vestes, tirando sorte sobre
elas,
para ver que parte caberia a cada um”.
(Mc 15,24)
As riquezas do mundo são
saqueadas pelos países ricos e nossos irmãos ficam, cada vez, mais pobres. A
muitas crianças falta casa, escola, comida, paz.
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, fizeram contigo como
constantemente se faz com os pobres: despiram-te de tudo e pegaram tuas vestes.
No mundo continua um sistema perverso que escava regos de injustiça: existem
crianças que morrem de fome, e outras comem demais. Existem crianças que não
podem ir à escola, e aquelas que não querem estudar; crianças que procuram
comida no lixo, e crianças que desperdiçam; crianças que têm uma bela casa, e
crianças que vivem pelas estradas; crianças que trabalham 12 horas por dia, e
crianças que só pensam em brincar; crianças generosas, que ajudam os outros, e
crianças que não pensam na dor e na miséria dos irmãos necessitados.
Senhor, perdoa-nos, por termos demais,
e constantemente nos queixar, sem pensar nos nossos irmãos que nada têm.
“Com ele crucificaram dois ladrões, um
à direita e outro à esquerda”.
(Mc 15,27)
No mundo há enterradas 100
milhões de minas. A guerra covarde das minas, mesmo quando acabam, não só matam
milhares de pessoas, mas também ferem irremediavelmente homens, mulheres e crianças.
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, quando te pregaram na
cruz, provaste uma dor infinita, como tantas crianças, mulheres e homens que
são atingidos pelos homens-bombas ou mutilados pelas minas.
Senhor, depois das guerras
violentas, inventamos as guerras covardes das minas e do falso heroísmo dos
homens-bombas. Com eles, destruímos a vida de milhões de seres humanos que
perderam seus braços, suas pernas, seus olhos... A dor dessa gente durará
uma vida inteira, porque ninguém poderá recuperar o mal devastador daqueles
objetos de morte.
Livra-nos, Senhor, da tentação
de inventar máquinas de guerras sempre mais sofisticadas que impõem aos irmãos
duras cruzes que nenhum cireneu pode aliviar.
Senhor, perdoa-nos pela crueldade e
dá-nos a força para desativar as minas do mal que carregamos em nossos
corações.
“Um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança,
e imediatamente saiu sangue e água”.
(Jo 19,34)
Nos últimos anos, no Brasil, o
número de separações e divórcios tem crescido enormemente,
com consequentes sofrimentos dos filhos, que se sentem abandonados ou
disputados.
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, para comprovar a tua
morte, o soldado romano golpeou-te com a lança, e do teu lado saiu sangue e
água. Deste tudo por nós, derramaste teu sangue até a última gota, porque amas
com amor infinito. Ofertaste a tua vida para a salvação do mundo. Quantas
crianças carregam no coração a tragédia dos pais que se separam. Ainda na
infância lhes é quebrado o sonho de uma família unida, e tornam-se objeto de
briga, e nos seus corações experimentam, antes do tempo, o amargor da traição.
Perdoa-nos, Senhor, por não
conseguirmos ser fiéis aos propósitos importantes de nossas vidas e por
tornarmo-nos motivo de sofrimentos para os pequenos.
“José de Arimatéia, tomando o corpo de Jesus, envolveu-o num
lençol limpo, e o colocou num túmulo novo, que mandara escavar na
rocha. Em seguida, rolou uma grande pedra na entrada do túmulo”.
(Mt 27,59-60)
Em alguns países do Leste
Europeu, muitas crianças, durante o inverno, vão aquecer-se nas tampas de
esgotos e de água e de gás.
Nós te adoramos, Senhor, e te
bendizemos,
Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o
mundo.
Jesus, a pedra do sepulcro
parecia acabar com todas as esperanças, mas tu venceste a escuridão e saíste
vencedor. Também nós temos certeza de que a vida das crianças do mundo não será
sempre uma vida cinzenta. Faremos de tudo para vencer a morte; porém, contamos
contigo, porque o desafio é grande. Não desejamos ficar chorando sobre o teu
sepulcro, não queremos continuar contando o número de crianças assassinadas,
exploradas e carentes. Sabemos que o teu sepulcro ficou vazio, porque tu
venceste a morte.
Senhor, ajuda-nos a esvaziar os poços
de indiferença e a encher os corações da esperança que nasceu no dia da tua
ressurreição.
“O anjo disse: ‘Não vos assusteis! Procurais Jesus,
o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou!
Não está aqui! Vede o lugar onde o puseram!’”.
(Mc 16,6)
Na esplêndida manhã de
Páscoa, fui ao sepulcro, para chorar a dor da Sexta-Feira
Santa. Uma luz radiosa o envolvia e, naquele esplendor, os meus
olhos não conseguiram encontrar o pranto.
Em torno do teu túmulo, havia
anjos e crianças a colher flores, a brincar com as borboletas, a
cantar com toda a força dos pulmões. Crianças brancas, crianças
negras, crianças de todas as raças e cores entravam e saíam daquele
que foi o teu sepulcro, e os anjos assistiam a tudo satisfeitos. Unindo-me
a elas, esqueci as lágrimas da Sexta-Feira Santa...
Tira,
Senhor, dos nossos corações a pedra que esconde a morte, e abre-nos à
fraternidade, à paz, à alegria, à gratidão... Transforma os nossos sepulcros em
lugares de esperança, onde a luz apague os sonhos de morte, restituindo-nos.