Migração e Pobreza na África: Um Grito por
Justiça e Fraternidade
Uma
crise silenciosa que grita por atenção
A África é um continente marcado por profundas
belezas culturais e riquezas naturais. No entanto, enfrenta uma realidade
alarmante: mais de 32 milhões de pessoas migraram forçadamente nos
últimos anos, empurradas pela violência, pobreza extrema, instabilidade
política e degradação ambiental. Este número, não representa apenas
estatísticas, representa famílias, sonhos interrompidos e vidas marcadas pela
dor da partida.
Essas migrações forçadas não são fruto de
escolha livre, mas da falta de opções dignas de
vida em seus países de origem. Muitos africanos deixam suas terras
com esperança de encontrar paz, alimento, trabalho e dignidade. Porém, o
caminho da migração frequentemente expõe essas pessoas a perigos, abusos,
xenofobia e exploração.
A
Doutrina Social da Igreja e o direito de migrar
A Igreja Católica tem uma longa tradição de
reflexão sobre o fenômeno da migração. Já em 1952, o Papa Pio XII publicou a
carta apostólica Exsul Familia, afirmando que a migração é um direito
natural de todo ser humano quando a vida em seu território não oferece
condições mínimas de sobrevivência e dignidade.
Os bispos católicos das Américas reforçaram
esse ensinamento na carta pastoral “Strangers No Longer”, em que
destacam cinco princípios fundamentais da doutrina social sobre migração. Entre
eles, destacam-se:
- O direito de permanecer na própria terra
com dignidade;
- O direito de migrar quando essa
permanência não é possível;
- A necessidade de acolhida compassiva por
parte dos países de destino;
- A proteção especial aos refugiados e
deslocados internos;
- O respeito à dignidade de todos os migrantes,
inclusive os não documentados.
Portanto, a Igreja não apenas reconhece o drama da migração, mas também orienta seus fiéis a verem os migrantes como irmãos e irmãs que merecem acolhimento, cuidado e solidariedade.
As
causas profundas da migração africana
Ao refletir sobre a migração africana, é
fundamental compreender suas causas. Muitos países do continente enfrentam:
- Conflitos armados
internos e externos, com
perseguições étnicas e religiosas;
- Exploração dos recursos
naturais por potências
estrangeiras, que resultam em empobrecimento das populações locais;
- Desigualdade econômica
extrema;
- Falta de acesso a
serviços básicos, como
saúde, educação e infraestrutura;
- Mudanças climáticas, que afetam diretamente a agricultura e
o acesso à água.
A Conferência Episcopal Pan-Africana tem
alertado que a África não precisa de caridade,
mas de justiça, denunciando práticas como o roubo de terras (land
grabbing), as imposições econômicas de organismos internacionais e o descaso dos
governos locais.
A
presença missionária e solidária da Igreja
Apesar dos desafios, a presença da Igreja na
África é sinal de esperança e resistência. Organizações católicas como a Catholic
Relief Services (CRS) atuam em diversas regiões oferecendo:
- Programas de segurança alimentar;
- Acesso à água potável;
- Formação para o trabalho e
empreendedorismo;
- Apoio a comunidades afetadas por
conflitos e desastres naturais.
Além disso, a Comissão Católica Internacional de Migração (ICMC) e a Rede Jesuíta com Migrantes promovem o acolhimento, a defesa dos direitos humanos e o acompanhamento espiritual de pessoas em mobilidade forçada. Esses organismos traduzem o Evangelho em gestos concretos de amor, justiça e paz.
A
voz do Papa Francisco diante da crise migratória
O Papa Francisco tem sido uma das vozes mais
firmes em defesa dos migrantes. Em diversas ocasiões, ele declarou que negar
ajuda aos migrantes é um pecado grave e que “a indiferença mata”.
Em sua visita à ilha de Lampedusa, palco de
milhares de mortes de migrantes que tentam atravessar o Mar Mediterrâneo, o
Papa perguntou com veemência: “Quem chorou por essas vidas?”. Essa
provocação ecoa como um chamado à conversão do coração e à mobilização concreta
dos cristãos.
Migração
e fé: um convite à solidariedade
A migração forçada na África é uma realidade
dolorosa, mas que nos interpela como cristãos. Diante dessa realidade, somos
chamados a:
- Orar pelos migrantes e
refugiados,
especialmente os que enfrentam violência e exploração;
- Acolher com empatia os que chegam em nossas comunidades;
- Apoiar as obras sociais
e missionárias da Igreja;
- Denunciar as causas
estruturais da pobreza e da migração forçada, em sintonia com a Doutrina Social da
Igreja.
Como ensina o Evangelho, “fui estrangeiro e me
acolhestes” (Mt 25,35). A fé cristã não permite neutralidade diante do
sofrimento humano.
Justiça,
compaixão e compromisso
A migração e a pobreza na África não são meros
problemas distantes. São expressões de um sistema desigual que fere a dignidade
de milhões. A resposta cristã não pode ser de indiferença, mas de justiça
estruturante, caridade ativa e compaixão concreta.
A Igreja é chamada a ser mãe e mestra, mas também companheira de caminhada dos povos feridos. O compromisso com os migrantes africanos deve ser parte de nossa espiritualidade, de nossa ação pastoral e de nossa cidadania comprometida com o Reino de Deus.