A IAM no Brasil

A IAM no Brasil

A História da Infância e Adolescência Missionária no Brasil: raízes, desafios e renascimentos

A chegada da Infância e Adolescência Missionária (IAM) ao Brasil é marcada por diversas interpretações históricas, mas todas revelam a força de uma espiritualidade missionária que atravessa gerações. Documentos antigos mencionam que, por volta de 1850, um sacerdote lazarista chamado padre Monteil teria introduzido a então chamada "Obra da Santa Infância" em solo brasileiro. Embora essa informação conste no relatório oficial de 1851 da Obra Pontifícia, ainda não há registros definitivos que comprovem a data exata. Com base em fontes complementares, muitos estudiosos consideram 1858 como o ano oficial de sua implantação no país.

Apoio da sociedade e declínio com a mudança de regime

Durante o período imperial, a Obra encontrou eco positivo entre a população. Em 1887, Monsenhor João Fernando Tiago Esbérard, futuro arcebispo do Rio de Janeiro, destacou em um relatório a receptividade popular e o envolvimento de famílias importantes, incluindo membros da casa imperial.

No entanto, com a Proclamação da República em 1889 e a mudança do cenário político e religioso, a Obra começou a enfraquecer. Apesar de sua significativa contribuição, o próprio Monsenhor Esbérard, ao tornar-se bispo, viu-se afastado da coordenação direta. Essa transição coincidiu com um momento de desarticulação e, nas décadas seguintes, a Obra perdeu visibilidade em âmbito nacional.

Resistência nas dioceses e o esforço missionário de continuidade

Mesmo diante da retração institucional, a missão não foi abandonada. Em várias dioceses do país, a Obra permaneceu viva graças ao empenho de religiosos e religiosas comprometidos com a evangelização das crianças. Um exemplo notável é o do padre Pedro Zingerlé, também lazarista, que atuou com vigor por mais de trinta anos como Diretor Diocesano na Arquidiocese de Fortaleza (CE), mantendo viva a chama missionária da infância.

Reorganização nacional e o apoio do Papa Pio XII

Somente em 1955, a Obra foi oficialmente reorganizada no Brasil, com a aprovação do então Presidente da CNBB, Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta. Essa retomada atendeu a um pedido expresso do Papa Pio XII, que, em 1950, já havia instituído o Dia Mundial da Infância Missionária, celebrado a cada 6 de janeiro (Epifania do Senhor). No Brasil, no entanto, a Conferência Nacional dos Bispos estabeleceu o último domingo de agosto como data comemorativa, unindo a celebração às atividades do Mês das Vocações. Desde 1959, as comunidades realizam coletas neste período em prol das crianças mais necessitadas ao redor do mundo.

Estruturação das Pontifícias Obras Missionárias

Até meados da década de 1970, o Brasil contava com direções distintas para cada uma das Pontifícias Obras Missionárias (POM): Propagação da Fé, São Pedro Apóstolo, Santa Infância e União Missionária. Em 1980, com a aprovação dos novos estatutos, todas as obras foram integradas em uma única Direção Nacional. Esse modelo buscou unificar esforços e melhorar a articulação entre as dimensões missionárias da Igreja.

A sede oficial da entidade foi constituída em 1978, em São Paulo. Pouco tempo depois, por orientação da CNBB, a sede nacional das POM foi transferida para Brasília, favorecendo o diálogo com os organismos missionários da Igreja no Brasil.

A redescoberta da IAM e seu impulso continental

Em 1993, durante a comemoração dos 150 anos da Infância Missionária, ocorreu o 1º Encontro Latino-Americano da IAM, na cidade de Cali, na Colômbia. Uma delegação brasileira, composta por adultos e crianças, participou do evento. Esse momento histórico representou um verdadeiro renascimento da IAM no Brasil, agora com um novo nome e identidade: Infância e Adolescência Missionária.

O reencontro com as raízes e a renovação do carisma reacenderam o ardor missionário entre crianças, adolescentes e assessores. Desde então, a IAM passou a crescer em número e qualidade pastoral, sendo hoje uma presença ativa em diversas dioceses do país.

Um legado vivo

A IAM continua sendo, até os dias atuais, um importante caminho de formação cristã e compromisso social. Inspirada pelo lema "Criança evangeliza criança, adolescente evangeliza adolescente", a Obra ajuda os mais jovens a descobrirem seu papel como discípulos missionários, comprometidos com a solidariedade, a oração e o testemunho de vida.

Presente em mais de 130 países, a Infância e Adolescência Missionária segue construindo pontes entre culturas, povos e comunidades, formando uma verdadeira rede global de amor e evangelização.




Avanços da Infância e Adolescência Missionária no Brasil a partir de 1995

O ano de 1995 marcou um momento decisivo para a expansão da Infância e Adolescência Missionária (IAM) no Brasil. Durante o 5º Congresso Missionário Latino-Americano (COMLA 5), realizado em Belo Horizonte (MG), a Obra recebeu novo impulso pastoral. A partir desse evento, sua organização passou a se fortalecer em diversas dioceses do país, refletindo o despertar de uma nova consciência missionária entre crianças, adolescentes e assessores.

Marcos recentes: celebrações, congressos e crescimento

Na XVI Assembleia Nacional dos Coordenadores Estaduais da IAM, realizada em Brasília (DF), entre os dias 6 e 9 de dezembro de 2012, tomou-se uma importante decisão: estabelecer o último domingo de maio como a data oficial da Jornada Nacional da IAM. A escolha se uniu às comemorações dos 170 anos da fundação da Obra no mundo, sendo o ano de 2013 declarado o “Ano da IAM” no Brasil, com atividades especiais em todo o território nacional.

Já em maio de 2014, entre os dias 23 e 25, foi realizado na cidade de Aparecida (SP) o 1º Congresso Americano da IAM, sob o tema “A IAM da América a serviço da missão” e o lema “Vocês são meus amigos!” (Jo 15,14). O evento reuniu 632 representantes, entre assessores e coordenadores de 17 países das Américas, sendo 506 brasileiros, o que evidenciou o protagonismo do Brasil no cenário missionário continental.



A força da missão no presente

Atualmente, a IAM é uma das mais vivas expressões da animação missionária no Brasil. Estima-se que existam cerca de 30 mil grupos organizados, envolvendo aproximadamente 260 mil crianças e adolescentes. Os grupos crescem continuamente, fortalecendo o espírito de solidariedade, evangelização e compromisso com a Igreja em saída.

Esse movimento é coordenado por um Secretariado Nacional, com sede em Brasília (DF), que articula os trabalhos com 26 coordenadores estaduais e um coordenador do Distrito Federal. Juntos, acompanham as coordenações diocesanas e apoiam dioceses que ainda não têm uma organização formal da Obra. Um dos maiores desafios atuais é criar e fortalecer coordenações onde os grupos atuam de forma isolada, além de inserir os materiais das Pontifícias Obras Missionárias (POM) nas escolas que trabalham com a IAM. Essa integração visa garantir maior fidelidade ao carisma e fomentar a comunhão com a missão universal da Igreja.

Expansão, formação e identidade missionária no século XXI

Nos últimos dez anos, a IAM tem experimentado um crescimento dinâmico e orgânico:

  • Grupos se formam em comunidades, paróquias, colégios e escolas, tornando a missão visível nas bases;
  • A formação sobre identidade e carisma da Obra vem sendo aprofundada por meio de congressos, encontros regionais e produção de materiais formativos;
  • O espírito de unidade e colaboração com outras pastorais fortalece a vivência missionária, ampliando o impacto do trabalho junto às novas gerações.

Essa expansão também é sustentada pelo reconhecimento social e eclesial da importância das crianças e adolescentes como sujeitos de direito e protagonistas da evangelização, em sintonia com os desafios do mundo contemporâneo.

O carisma da IAM à luz do novo milênio

Por ocasião dos 160 anos da fundação da Obra, o Papa São João Paulo II publicou, em 6 de janeiro de 2003, uma mensagem especial, na qual reafirmou os princípios que devem orientar a caminhada da Infância e Adolescência Missionária no mundo atual:

"A IAM propõe às crianças um caminho de fé que inclui a oração diária, gestos concretos de solidariedade e ofertas de sacrifício. Com isso, elas se tornam evangelizadoras de outras crianças.”

O pontífice também destacou o valor do empenho missionário diante das realidades sociais:

"Queridas crianças missionárias, sei com que dedicação vocês se esforçam para ajudar crianças em situação de pobreza, sofrimento e exploração. Que possam sempre estar atentas às crianças vítimas da guerra e da violência. Rezem para que o dom da fé chegue àquelas que ainda não conhecem Jesus."

Essa exortação continua viva e atual, convidando cada grupo da IAM a viver com profundidade seu compromisso batismal, sendo sinais de esperança e agentes de transformação no mundo.